Enquanto os Exércitos de cada país evoluíram com o tempo, mudando seus uniformes, suas armas, seus métodos e incluindo as mulheres, a Guarda Suíça, fundada pelo papa Júlio II, em 1506, com o objetivo de proteger os pontífices no Vaticano, continua presa ao passado.
Em qualquer visita à Cidade do Vaticano, é inevitável prestar atenção nestes guardas, que pertencem ao menor Exército do mundo, com apenas 110 soldados. Apesar de seus oficiais aprenderem a manejar armas modernas e receberem cursos de defesa antiterrorista, em público, eles são vistos apenas empunhando espadas e alabardas quando efetuam seus trabalhos de controle do Vaticano e bloqueiam as vias de acesso à pequena e amuralhada cidade. Já a segurança externa fica a cargo da Polícia italiana, segundo os Pactos Lateranenses, assinados em 1929.
Seu vivo uniforme vermelho, azul e amarelo torna a Guarda Suíça uma verdadeira atração para milhões de câmeras fotográficas dos turistas que visitam o Vaticano todos os dias. Ele foi desenhado pelo comandante da Guarda Jules Répond, que ficou no cargo de 1910 a 1921, e é considerado uma das vestimentas militares mais antigas do mundo e, sobretudo, a mais original.
A criação
O Exército foi criado pelo papa Júlio II, em 1506, quando negociou com alguns dos cantões suíços o envio de voluntários para formar um contingente estável em Roma, como guarda pessoal e de sua residência.
A Guarda Suíça foi dizimada em 1527 após o chamado "Sacco di Roma", ou ataque que as tropas do imperador Carlos V ao Vaticano para dar ao papa Clemente VI "um castigo" por sua política pró-França. Naquela ocasião, o pontífice se salvou por ter se refugiado no castelo Sant'Angelo, mas 147 guardas morreram em sua defesa.
Por isso, todo dia 6 de maio e em lembrança do "Sacco di Roma", é realizado o tradicional juramento dos novos recrutas, em que eles levantam os três dedos das mãos direita para reafirmar sua fé na Trindade.
Após muitas alterações, o papa Pio VII voltou a formar o pequeno Exército em 1801, mas somente com 64 soldados. Leão XII aumentou o contingente para 200 em 1824, até chegar ao número atual, de 110 membros.
Condições dos soldados
Nestes cinco séculos, as normas de recrutamento dos chamados "anjos da guarda do papa" continuam as mesmas. Eles devem ser originários de algum cantão suíço, ser católicos, solteiros no momento de sua entrada no serviço, ter entre 20 e 30 anos e uma altura mínima de 1,74 metro.
A duração mínima de serviço é dois anos e o salário mensal que recebem gira em torno de mil euros, sem contar com o financiamento de alojamento, manutenção e assistência médica, pago pela Santa Sé.
Diante da possibilidade de abrir a Guarda Suíça para mulheres, há alguns anos, o então comandante do corpo, Elmar Mader, declarou: "nós não somos um Exército e não me imagino em serviço junto com mulheres. Vivemos em um quartel, em um ambiente muito estrito".
O interesse pelo Exército o levou a criar uma linha de artigos com sua marca, com chaveiros, camisetas, mochilas, guarda-chuvas, bonés e até garrafas de vinho com o escudo oficial da Guarda Suíça, que podem ser comprados pela internet ou em uma pequena loja dentro de seu quartel-general, no Vaticano. A arrecadação pela venda dos souvenires é destinada a obras de caridade.
A história do Exército foi cercada de mistério em 1998, quando o então comandante da Guarda Suíça, Alois Estermann, e sua esposa, Gladys Meza Romero, foram assassinados pelo cabo Cedrid Tornay, nos apartamentos destinados aos soldados.
Dezenas de artigos e livros foram escritos sobre o caso, com teorias que vão de boatos sobre homossexualidade a espionagem. No entanto, os tribunais do Vaticano asseguraram que Tornay matou o comandante e sua mulher por causa de um rancor pessoal que tinha contra Estermann.
De qualquer maneira, a missão da Guarda Suíça foi elogiada por todos os papas. "Vossos históricos uniformes falam aos fiéis e aos turistas de todo o mundo que vosso compromisso de servir a Deus não mudou", disse Bento XVI, descrevendo o trabalho de seus "anjos da guarda".