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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

"Me recuso a dizer que perdi a esperança"

Eric Hobsbawm: "Me recuso a dizer que perdi a esperança"PDFImprimirE-mail
História
Eric Hobsbawm
Sex, 25 de Setembro de 2009 16:03

Eric Hobsbawm
Eric Hobsbawm
O historiador Eric Hobsbawm - que tem sua trilogia (A Era das Revoluções, A Era do Capital e A Era dos Extremos) reeditada no Brasil - diz que o aniversário da queda do Muro de Berlim deveria motivar uma discussão sobre o Ocidente pós-guerra fria. Defendendo suas convicções marxistas, ele afirmou: "Me recuso a dizer que perdi a esperança". Para Hobsbawn, o capitalismo chegou ao seu limite.

Quando Eric Hobsbawm estava escrevendo "A Era do Capital" -lançado em 1975-, explicou que fazia um imenso esforço para estudar algo que não lhe agradava nem um pouco. Hoje, o historiador marxista diz ter o mesmo sentimento, "eu não gostava da burguesia vitoriana e ainda não gosto, embora apreciasse o dinamismo daquele tempo". À essa impressão, porém, vem adicionando, nos últimos anos, mais uma, a nostalgia.

"Agora, quando comparo o século 19 com o 20, sinto simpatia pelo modo como aqueles homens acreditavam no progresso. Foi um século de esperança. E essa minha nostalgia cresce à medida que o tempo passa e vejo, com pessimismo, o que vem acontecendo", diz.

Hobsbawm, 92, conversou com a Folha por telefone, de Londres, justamente sobre a reedição no Brasil de sua trilogia sobre o século 19 ("A Era das Revoluções", "A Era do Capital", "A Era dos Impérios"), já um clássico da historiografia sobre o período, pela editora Paz e Terra -que também relançará em 2010 outro título do historiador, "Bandidos".

Na trilogia, Hobsbawm analisou o que chamou de "longo século 19", período que vai de 1789 a 1914. Começa com as revoluções europeias que definiram a expansão do capitalismo e do liberalismo no planeta -a Francesa e a Industrial inglesa- e vai até as vésperas da Primeira Guerra Mundial.

Apesar dos ataques que sofre por ainda defender a bandeira do comunismo, os três volumes de Hobsbawm são reimpressos todos os anos na Inglaterra, tendo sua explicação sobre o tema se imposto como uma espécie de cânone.

Hobsbawm é com frequência procurado para comentar temas do presente -algo que seus críticos tampouco perdoam. Agora, às vésperas do aniversário de 20 anos da queda do Muro de Berlim (em novembro), seu conhecimento sobre os tempos que estudou e vivenciou, assim como suas convicções políticas, são novamente trazidos ao debate.

"A queda do Muro foi o fim de uma era. Não só para a Europa do Leste, mas para o mundo inteiro. O capitalismo chegou a seu limite e a a crise econômica mundial indica claramente o fim de um ciclo."

Contudo, o historiador considera que as discussões sobre o episódio estão muito centradas em tentar entender por que a experiência comunista fracassou, quando o que deveria estar na pauta é o futuro do Ocidente. Para ele, o mundo pós-Guerra Fria ainda não fez uma necessária autocrítica.

Leia trechos da entrevista que Eric Hobsbawm concedeu à Folha:

O que mais deveria ser discutido no aniversário de 20 anos da queda do Muro de Berlim?

A celebração é oportuna porque o capitalismo agora chegou a seu limite. A crise econômica mundial é o fim de um ciclo, que começou a ruir quando caiu o Muro em Berlim. No Leste Europeu, vejo dificuldade em rompimento com o legado comunista. Mas é o Ocidente quem deve refletir mais sobre o que ocorreu na Guerra Fria e o que pode ser feito para evitar um novo colapso.

As "Eras" são consideradas um exemplo de boa análise histórica dedicada a um amplo período. O sr. acha que falta ambição a historiadores hoje?

Para fazer história com uma perspectiva maior, é preciso ser um intelectual maduro. Hoje, os jovens historiadores gastam muito mais tempo em suas especializações. Quando estão aptos a dar um passo maior, hesitam. A história equivocadamente se afastou da "história total" que fazia Fernand Braudel [1902-1985].

O sr. começa "A Era dos Impérios" contando uma história autobiográfica (a do encontro de seus pais no Egito) e então propõe uma reflexão sobre história e memória. Quão diferente foi escrever este volume, que se refere a passagens mais próximas do seu olhar no tempo, do que os anteriores?

Neste livro tive de trabalhar com o que chamo de "zona de penumbra", onde se misturam nossas lembranças e tradições familiares com o que aprendemos depois sobre determinado período. Não é fácil, pois trata-se de um território de incertezas e em que há um elemento afetivo. Por outro lado, trata-se de uma oportunidade de estimular aquele que lê a pensar sobre como seu próprio passado está relacionado com a história.

Em seu novo livro ("Reappraisals"), o historiador britânico Tony Judt escreveu um ensaio sobre o senhor ("Eric Hobsbawm and the Romance of Communism"). Neste, mostra admiração por seu conhecimento, mas faz uma severa crítica: "para fazer o bem no novo século, nós devemos começar dizendo a verdade sobre o antigo. Hobsbawm se recusa a mirar o demônio na cara e chamá-lo pelo nome". Como o sr. responderia a seu colega?

A crítica de Judt não se justifica. O que ele quer é que eu diga que estava errado. Em "A Era dos Extremos", eu encaro o problema, o critico e condeno. Não tenho problemas em dizer que a Revolução Russa causou dor e sofrimento à população russa. Porém, o esforço revolucionário foi algo heroico. Uma tentativa de melhorar a sociedade como não se viu mais na história. Me recuso a dizer que perdi a esperança.

O sr. havia dito, numa entrevista ao "Independent", que havia alguns clubes dos quais não iria ser sócio nunca, referindo-se aos intelectuais ex-comunistas. Ainda pensa assim?

Não vejo problema quando um intelectual, especialmente de países do Leste Europeu, percebe que a democracia é melhor do que o sistema autoritário em que vivia. É normal a mudança de posição quando surgem fatos novos. O ex-comunista que condeno é aquele que antes militava em grupos de esquerda e que hoje tem uma bandeira única, a de ser anticomunista apenas, esquecendo-se do resto das ideias pelas quais lutava. Também me entristece ver intelectuais jovens, que não passaram pela história dessas lutas, repetindo e tentando tirar benefício desse mesmo tipo de propaganda.

A América Latina está às vésperas de comemorar, em vários países, os 200 anos do início das lutas de independência. Que análise faz do atual momento?

A dependência econômica ainda é um fato, mas politicamente a América Latina é cada vez mais livre. Washington jamais voltará a exercer a influência de antes, tampouco a apoiar golpes ou ditaduras como fez no passado. O que está acontecendo em Honduras é um sinal disso. O Brasil tem papel central nesse processo, uma vez que o México se transforma cada vez mais em apêndice dos EUA.

Fonte: http://www.socialismo.org.br/portal/historia/148-entrevista/1149-eric-hobsbawm-qme-recuso-a-dizer-que-perdi-a-esperancaq

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A CONFRARIA DOS MACACOS - Parte I

Ah! esta velha sabedoria popular, quanto tens para me ensinar!!!

Pois é, o macaco esconde seu próprio rabo, porque imagina que, assim, ninguém vendo o seu, nada irá reparar, não é mesmo? Mas existe outro provérbio bastante popular que aprendi com meu avô que dizia que”... o macaco tantas faz, que um dia esquece o próprio rabo”. Ou seja, os “espertos” tanto aprontam que, um dia, acabam esquecendo da própria esperteza e deixam o rabo à mostra, ou, as marcas de sua cupidez.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

24 de agosto de 1954

Quando chegou de ambulância no Palácio do Catete por volta das 8h20m, o médico Rodolpho Perissé, 27 anos, de plantão no serviço externo do Hospital Souza Aguiar, não fazia a mínima idéia de quem precisava dos seus cuidados. Imaginou tratar-se de alguma pessoa das vizinhanças, vítima de um acidente.

Acompanhado por um enfermeiro, Perissé foi levado para o segundo andar. E ali, ao entrar no primeiro quarto do corredor à esquerda, deparou-se com a cena que jamais esquecerá.

Metido em um pijama com listas azuis e brancas, ensangüentado na altura do coração, jazia o corpo do presidente Getúlio Vargas. A cabeça estava mais para o meio da cama de casal onde costumava dormir. O resto do corpo, mais inclinado para a esquerda. Um dos pés pendia da cama.

Havia três pessoas sentadas na cama: Alzirinha, sua filha,o marido Amaral Peixoto e o ministro Tancredo Neves, da Justiça.

A mulher de Getúlio, dona Darcy Vargas, desabara inconsolável numa poltrona próxima da cama. E numa cadeira ao pé da cama, o filho do presidente, Lutero, parecia em estado de choque. Ao seu lado, o ajudante-de-ordem Hélio Dornelles.

Perissé usou seu estetoscópio para verificar se o coração de Getúlio ainda batia. Não batia.

Levantou uma pálpebra, depois outra. Por fim, pingou éter nos olhos do presidente. Nenhum reflexo pupilar. O corpo ainda não esfriara.

Constatou marcas de pólvora nas mãos de Getúlio, indicando que ele as usara para aproximar o cano do revólver do seu mamilo esquerdo e puxar o gatilho. Ele atirou por cima da roupa.

– O que vão fazer com ele? – gemeu dona Darcy.

– O presidente Getúlio Vargas está morto – anunciou o médico.

Alzirinha teve a impressão de que o pai esboçara um sorriso quando ela irrompeu no quarto dele depois ter ouvido o barulho seco do disparo. No instante seguinte, o sorriso sumiu.

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Hoje faz 57 anos que Getúlio Vargas saiu da vida para entrar na História.


http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2011/08/24/24-de-agosto-de-1954-na-cama-ensanguentado-399623.asp

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

19 de Agosto - Dia do Historiador

A proposta de homenagear os historiadores é de autoria do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), um dos políticos mais capacitados para falar de educação neste país. Inicialmente, a data escolhida foi o dia 12 de setembro. Mas ai, foi proposta uma emenda, aprovada pela comissão, que alterava a data para 19 de agosto. Isso tudo foi registrado na LEI Nº 12.130, DE 17 DE DEZEMBRO DE 2009.

O objetivo era aproveitar a data para homenagear Joaquim Nabuco, que nasceu no dia 19 de agosto de 1849. Nabuco, para quem gosta de História do Brasil, foi um dos maiores abolicionistas deste país. Também foi político, diplomata, jurista, jornalista, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e também Historiador.

Para homenagear a data de hoje, coloco aqui um trecho da justificativa do senador para criar o Dia do Historiador:

"Um povo sem história é um povo sem memória. Essa afirmação, mais que um dito já popular, é também uma verdade histórica, pois todos os agrupamentos humanos que não preservaram sua memória - em histórias, documentos, objetos de arte e arquitetura - acabaram sucumbindo a ditaduras e até acabaram por desaparecer da face da Terra.

Por essa razão, não apenas a disciplina que trata das histórias dos povos deve merecer nossa atenção, mas também os cientistas que se dedicam a essa tarefa tão nobre. Obviamente, a história se faz por seus protagonistas: lideranças políticas, religiosas e econômicas, por um lado; grupos populares, lutas contra a opressão e pela libertação, por outro. E para registrar tudo, o historiador.

E de tal modo é importante o papel dos historiadores que, por vezes, eles ajudam, também, a reconfigurar a história de um País. Ao lado da Filosofia e da Literatura, a História está presente desde os primeiros momentos da nossa tradição ocidental, constituindo um dos saberes mais antigos de nossa civilização."

Meus parabéns a todos os colegas Historiadores!

FONTE: http://saibahistoria.blogspot.com/2011/08/19-de-agosto-dia-do-historiador.html

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

12 de agosto de 1859 - desembarca no Rio de Janeiro o Rev. Ashbel Green Simonton

12 de agosto de 1859
Essa é data do desembarque do missionário norte americano, Rev. Ashbel Green Simonton, com apenas 26 anos de idade e solteiro.
o Rev. Simonton foi enviado pelo Board of Foreign Missions of the Presbyterian Church United States – PCUSA para implantar o presbiterianismo no Brasil.
O Rev. Simonton nas ceu em 20 de janeiro de 1833,em West Hanover, Condado de Dauphin, Pensilvânia, EUA.
Do origem escocesa-irlandesa, filho de William Simonton e Martha Davis Snosgrass. Estudou na Academia de Harrisburg e no Colégio de Nova Jersey. Formou-se no magistério e lecionou em Starkville, Estado de Mississipi. Em junho de 1855 ingressou no Seminário de Princeton. Licenciado pelo Presbitério de Carlisle em 14 de abril de 1858 e ordenado em 14 de abril de 1859. Em 18 de junho de 1859 embarca para o Brasil chegando em 12 de agosto de 1859.
Organizou a primeira Igreja Presbiteriana no Brasil, a Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro em 12 de janeiro de 1862. Casou-se com Helen Murdoch em 19 de março de 1863 quando esteve nos EUA. Em 28 de junho de 1864 Helen faleceu de complicaões no parto, mas a menina sobreviveu e o Rev. Simonton deu-lhe o nome da esposa e mãe da menina - Helen.
Outras Igrejas seriam organizadas em seu período aqui no Brasil, a Igreja Presbiteriana de São Paulo (hoje Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo) , em 05 de março de 1865 e a Igreja Presbiteriana de Brotas, em 13 de novembro de 1865.
Em 16 de dezembro de 1865 fez parta da organização do Presbitério do Rio de Janeiro.
Faleceu prematuramente em 09 de dezembro de 1867, antes de completar 35 anos de idade, na casa de seu cunhado Rev. Alexander Latimer Blackford, à Rua Nova de São José, na capital do Estado de São Paulo, vítima de febre biliosa, mais conhecida como febre amarela, uma doença que assolava o Rio de Janeiro todos os anos, ceifando milhares de vidas. É provável que ele tenha saído do Rio de Janeiro já com a moléstia. Foi sepultado no jazigo nº 1 do Cemitério dos Protestantes, no bairro da Consolação, na Capital do Estado de São Paulo, hoje administrado pela Igreja Presbiteriana Independente do Brasil.
Por sua instrumentalidade 80 (oitenta) pessoas haviam feito sua pública profissão de fé. Deixou manuscritos muitos sermões que mais tarde, após a sua morte, foram publicados pelos seus irmãos sob o título de “Sermões Escolhidos”; escreveu um “Comentário bíblico sobre o livro de Mateus”; traduziu o “Breve Catecismo”; um folheto intitulado “Os meios necessários e próprios para plantar o reino de Jesus Cristo no Brasil”; dentre outros. A Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro possuía uma Escola Evangélica, ou Paroquial, ou Presbiteriana funcionando nas dependências do local onde a Igreja se reunia, com 70 (setenta) alunos; um Seminário o “Primitivo”, com 04 (quatro) alunos; o jornal “Imprensa Evangélica"; pontos de pregação em Lagoinha (em Santa Teresa), Ponta do Caju (atual bairro do Caju) e outros.
Merece um registro especial que Helen Murdoch Simonton, filha do Rev. Simonton morreu aos 88 anos, em 07.01.1952, solteira e sem filhos.



Sua determinação e confiança em Deus foram decisivos para a obra missionária no Brasil. Quando Simonton decidiu enviar sua proposta como missionário da Junta de Missões Estrangeiras, orou da seguinte forma: “A ti, ó Deus, confio meus caminhos na certeza de que o Senhor dirigirá meus passos”.
Após a morte do Rev. Simonton, o Rev. Blackford Pastor Efetivo da Igreja do Rio retorna de São Paulo para assumir o pastorado da Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro.
Nessa ocasião a Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro se reunia no Campo de Santana, esquina com a Rua do Conde (atual Rua Frei Caneca) e estava sob os cuidados Pastorais do Rev. Francis Joseph Christopher Schneider, Co-Pastor da Igreja. A Igreja ficou pouquíssimo tempo nesse local. Rev. Schneider foi eleito Co-Pastor juntamente com o Rev. Simonton, também Co-Pastor e o Rev. Blackford eleito Pastor Efetivo, em eleição realizada em 15.05.1863 entre os membros da Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro.

Prof. Nelson de Paula Pereira


SIMONTON, Ashbel Green. Diário. Casa Editora Presbiteriana: São Paulo, 1982, p 125.

domingo, 31 de julho de 2011

CHUVA DE PRATA

Se tem luar no céu

Retira o véu e faz chover

Sobre o nosso amor...

Chuva de prata
Que cai sem parar
Quase me mata
De tanto esperar
Um beijo molhado de luz
Sela o nosso amor...

Basta um pouquinho
De mel prá adoçar
Deixa cair
O seu véu sobre nós
Oh Lua!
Bonita no céu
Molha o nosso amor...

Toda vez
Que o amor disser:
Vem comigo!
Vai sem medo
De se arrepender...

Você deve acreditar
No que eu digo
Pode ir fundo
Isso é que é viver...

Cola seu rosto no meu
Vem dançar
Pinga seu nome no breu
Prá ficar
Enquanto se esquece de mim
Lembra da canção...

Toda vez
Que o amor disser:
Vem comigo!
Vai sem medo
De se arrepender...

Você deve acreditar
No que eu digo
Pode ir fundo
Isso é que é viver...

Chuva de prata
Que cai sem parar
Quase me mata
De tanto esperar
Um beijo molhado de luz
Sela o nosso amor
Enquanto se esquece de mim
Lembra da canção
Oh Lua!
Bonita no céu
Molha o nosso amor!...

(Composição: Ed Wilson / Ronaldo Bastos)

UM DIA DE DOMINGO

Eu preciso te falar

Te encontrar de qualquer jeito
Prá sentar e conversar
Depois andar
De encontro ao vento...

Eu preciso respirar
O mesmo ar que te rodeia
E na pele quero ter
O mesmo sol que te bronzeia...

Eu preciso te tocar
E outra vez te ver sorrindo
E voltar num sonho lindo...

Já não dá mais prá viverUm sentimento sem sentido
Eu preciso descobrir
A emoção de estar contigo...

Ver o sol amanhecer
E ver a vida acontecer
Como um dia de domingo...

Faz de conta que ainda é cedo
Tudo vai ficar
Por conta da emoçãoFaz de conta que ainda é cedo
E deixar falar
A voz do coração...

(Composição: Michael Sullivan e Paulo Massadas)

sábado, 30 de julho de 2011

31 DE JULHO DE 1903, NASCE A IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL - IPI

Pastoral da Diretoria da Assembléia Geral - 31/7/2011



Caros irmãos e irmãs,
Estamos completando mais um ano como Igreja Presbiteriana Independente do Brasil. São decorridos 108 anos desde aquela memorável reunião que marcou o início desta jornada.
Estas ocasiões sempre são oportunas para algumas reflexões, assim como na história do povo de Israel as festas eram não apenas uma celebração festiva, mas também tempo de reavivar a memória e renovar as esperanças. A celebração da Páscoa, por exemplo, era a oportunidade para reviverem a história do êxodo, atualizando seu significado e reafirmando a esperança no Deus Libertador. Gamaliel, o grande mestre judaico, referindo-se à Páscoa, exortava para que cada geração e cada pessoa se considerassem como tendo sido ela própria liberta do Egito. Era uma reatualização do evento histórico.
Assim também, ao celebrarmos este “31 de Julho”, devemos fazê-lo como se cada um de nós tivesse vivido aquele momento histórico, com suas angústias e esperanças. Importa, pois, retomar alguns fatos daquele momento que ainda hoje representam desafios para nós.
Primeiro - A IPI do Brasil surgiu dentro do empenho pela evangelização deste país. Estava no coração daqueles pioneiros a necessidade da igreja brasileira assumir a responsabilidade pela evangelização. Decorridos tantos anos, nos perguntamos se existe tarefa mais urgente do que anunciar o evangelho a este país através de todos os meios, recursos e a todas as pessoas? Há uma grande oportunidade para proclamação do evangelho neste país. Os campos estão brancos para a ceifa. As portas estão abertas. Há receptividade. As pessoas estão sedentas e abertas. O que nos impede?
Segundo - A preocupação pela formação teológica de qualidade e adequada à realidade brasileira. Uma frase de Eduardo Carlos Pereira expressou bem essa preocupação: “A educação dos filhos da igreja pela igreja e para a igreja”. Era o cuidado que a igreja deveria ter na formação cristã e teológica dos seus filhos e candidatos ao ministério, devendo esta formação nunca perder de vista o horizonte da igreja. Esta preocupação ainda se faz atual na medida em que a igreja deve investir cuidadosa e atentamente na formação de seus quadros, para que sirvam à igreja e atendam suas necessidades, e não usem a igreja como trampolim para outros projetos pessoais.
Terceiro - A luta pela autonomia da igreja brasileira. Esta luta, por um lado, representava a maturidade da liderança nacional capaz gerir os destinos da nascente igreja, mas, por outro, era o duro desafio de fazer face às suas necessidades, vivendo sem a expectativa fácil de recursos externos. Esta responsabilidade gerou e deve gerar ainda o senso ou a certeza que Deus mesmo é o Senhor da obra e dos recursos, e que o seu trabalho não é determinado fundamentalmente pela disponibilidade de recursos financeiros, mas pela obediência. Realizamos o trabalho não porque dispomos de recursos financeiros, mas porque, além de ser importante, é uma questão de obediência. Se os recursos financeiros determinam nossas decisões, significa que nossa obediência é condicionada a Mamom e não ao Senhor da Igreja. Deus depende de pessoas obedientes para a realização dos seus planos. Os recursos Ele sempre provê.
Quarto - No debate sobre a compatibilidade entre fé cristã e as práticas maçônicas estava a preocupação com o caráter exclusivo da lealdade a Cristo, bem como a recusa a quaisquer concessões doutrinárias, tendo em vista possíveis benefícios advindos da filiação à Maçonaria. A Maçonaria defendera, é verdade, a liberdade religiosa e contribuíra para a proclamação da República, culminando com a separação entre igreja e estado. Essas conquistas, importantes sem dúvida para o protestantismo, não poderiam levar pastores e presbíteros a aderirem à Maçonaria, fazendo concessões doutrinárias, como de fato ocorreu. Os pastores e presbíteros que se levantaram contra essa atitude não estavam combatendo a Maçonaria, mas a sua incompatibilidade com a fé cristã e o caráter inegociável de algumas doutrinas.
A história tem comprovado a pertinência daquela decisão. Todavia, devemos nos perguntar: Quais as seduções que a igreja sofre hoje? Quais as pressões da cultura que se apresentam hoje como inofensivas ou normais, mas que comprometem nossa lealdade absoluta a Jesus Cristo?
Estas e outras questões devem fazer parte das nossas celebrações neste “31 de Julho”. Somos herdeiros de uma história de luta, de sacrifícios, de sonhos e de propósitos de servir ao Senhor com integridade e coerência. Que igreja vamos deixar para a geração que nos sucederá? Que exemplos de amor e sacrifício serão escritos com nossa vida? Que modelos de fidelidade ao evangelho deixaremos para nossos filhos?
Tradicionalmente, temos uma semana de oração antecedendo às celebrações. O Estandarte (edição de unho) publicou o Caderno de Oração com os temas para cada dia. A participação de todas as igrejas, além do benefício próprio da oração, fortalece nosso senso de identidade. Queremos, contudo, desafiar a igreja a orarmos não apenas uma semana, mas iniciar uma jornada de oração durante todo o semestre. Serão enfatizados em cada semestre da presente gestão assuntos básicos da vida cristã, tais como o estudo da Palavra, o anúncio, a celebração, a generosidade, o acolhimento, o serviço, etc. Todavia, nenhum tema é tão prioritário e urgente quanto a oração. Retornaremos a este assunto brevemente.
Partilhando do mesmo empenho do apóstolo Paulo, coloquemo-nos de joelhos para discernir a vontade de Deus e, com ousadia, cumprir nossa vocação, conforme expresso na sua carta aos Efésios: “Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai, de quem toma o nome toda família, tanto no céu como sobre a terra, para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior; e, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor, a fim de poderdes compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus. Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém!” (Ef 3.14-21)



Enviada por Diretoria

sábado, 9 de julho de 2011

MINHA MISSÃO


Quando eu canto
É para aliviar meu pranto
E o pranto de quem já
Tanto sofreu
Quando eu canto
Estou sentindo a luz de um santo
Estou ajoelhando
Aos pés de Deus
Canto para anunciar o dia
Canto para amenizar a noite
Canto pra denunciar o açoite
Canto também contra a tirania
Canto porque numa melodia
Acendo no coração do povo
A esperança de um mundo novo
E a luta para se viver em paz!

Do poder da criação
Sou continuação
E quero agradecer
Foi ouvida minha súplica
Mensageiro sou da música
O meu canto é uma missão
Tem força de oração
E eu cumpro o meu dever
Aos que vivem a chorar
Eu vivo pra cantar
E canto pra viver

Quando eu canto, a morte me percorre
E eu solto um canto da garganta
Que a cigarra quando canta morre
E a madeira quando morre, canta!

(João Nogueira e Paulo César Pinheiro)

terça-feira, 14 de junho de 2011

Os evangélicos e a ditadura militar

Os evangélicos e a ditadura militar

Documentos inéditos do projeto Brasil: Nunca Mais - até agora guardados no Exterior - chegam ao País e podem jogar luz sobre o comportamento dos evangélicos nos anos de chumbo

Rodrigo Cardoso

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No primeiro dia foram oito horas de torturas patrocinadas por sete militares. Pau de arara, choque elétrico, cadeira do dragão e insultos, na tentativa de lhe quebrar a resistência física e moral. “Eu tinha muito medo do que ia sentir na pele, mas principalmente de não suportar e falar. Queriam que eu desse o nome de todos os meus amigos, endereços... Eu dizia: ‘Não posso fazer isso.’ Como eu poderia trazê-los para passar pelo que eu estava passando?” Foram mais de 20 dias de torturas a partir de 28 de fevereiro de 1970, nos porões do Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), em São Paulo. O estudante de ciências sociais da Universidade de São Paulo (USP) Anivaldo Pereira Padilha, da Igreja Metodista do bairro da Luz, tinha 29 anos quando foi preso pelo temido órgão do Exército. Lá chegou a pensar em suicídio, com medo de trair os companheiros de igreja que comungavam de sua sede por justiça social. Mas o mineiro acredita piamente que conseguiu manter o silêncio, apesar das atrocidades que sofreu no corpo franzino, por causa da fé. A mesma crença que o manteve calado e o conduziu, depois de dez meses preso, para um exílio de 13 anos em países como Uruguai, Suíça e Estados Unidos levou vários evangélicos a colaborar com a máquina repressora da ditadura. Delatando irmãos de igreja, promovendo eventos em favor dos militares e até torturando. Os primeiros eram ecumênicos e promoviam ações sociais e os segundos eram herméticos e lutavam contra a ameaça comunista. Padilha foi um entre muitos que tombaram pelas mãos de religiosos protestantes.

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O metodista só descobriu quem foram seus delatores há cinco anos, quando teve acesso a documentos do antigo Sistema Nacional de Informações: os irmãos José Sucasas Jr. e Isaías Fernandes Sucasas, pastor e bispo da Igreja Metodista, já falecidos, aos quais era subordinado em São Paulo. “Eu acreditava ser impossível que alguém que se dedica a ser padre ou pastor, cuja função é proteger suas ovelhas, pudesse dedurar alguém”, diz Padilha, que não chegou a se surpreender com a descoberta. “Seis meses antes de ser preso, achei na mesa do pastor José Sucasas uma carteirinha de informante do Dops”, afirma o altivo senhor de 71 anos, quatro filhos, entre eles Alexandre, atual ministro da Saúde da Presidência de Dilma Rousseff, que ele só conheceu aos 8 anos de idade. Padilha teve de deixar o País quando sua então mulher estava grávida do ministro. Grande parte dessa história será revolvida a partir da terça-feira 14, quando, na Procuradoria Regional da República, em São Paulo, acontecerá a repatriação das cópias do material do projeto Brasil: Nunca Mais. Maior registro histórico sobre a repressão e a tortura na ditadura militar (leia quadro na pág. 79), o material, nos anos 80, foi enviado para o Conselho Mundial de Igrejas (CMI), organização ecumênica com sede em Genebra, na Suíça, e para o Center for Research Libraries, em Chicago (EUA), como precaução, caso os documentos que serviam de base do trabalho realizado no Brasil caíssem nas mãos dos militares. De Chicago, virá um milhão de páginas microfilmadas referentes a depoimentos de presos nas auditorias militares, nomes de torturadores e tipos de tortura. A cereja do bolo, porém, chegará de Genebra – um material inédito composto por dez mil páginas com troca de correspondências entre o reverendo presbiteriano Jaime Wright (1927 – 1999) e o cardeal-arcebispo emérito de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, que estavam à frente do Brasil: Nunca Mais, e as conversas que eles mantinham com o CMI.

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Somente em 1968, quatro anos após a ascensão dos militares ao poder, o catolicismo começou a se distanciar daquele papel que tradicionalmente lhe cabia na legitimação da ordem político-econômica estabelecida. Foi aí, quando no Brasil religiosos dominicanos como Frei Betto passaram a ser perseguidos, que a Igreja assumiu posturas contrárias às ditaduras na maioria dos países latino-americanos. Os protestantes, por sua vez, antes mesmo de 1964, viveram uma espécie de golpe endógeno em suas denominações, perseguindo a juventude que caminhava na contramão da ortodoxia teológica. Em novembro de 1963, quatro meses antes de o marechal Humberto Castelo Branco assumir a Presidência, o líder batista carismático Enéas Tognini convocou milhares de evangélicos para um dia nacional de oração e jejum, para que Deus salvasse o País do perigo comunista. Aos 97 anos, o pastor Tognini segue acreditando que Deus, além de brasileiro, se tornou um anticomunista simpático ao movimento militar golpista. “Não me arrependo (de ter se alinhado ao discurso dos militares). Eles fizeram um bom trabalho, salvaram a Pátria do comunismo”, diz.

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Assim, foi no exercício de sua fé que os evangélicos – que colaboraram ou foram perseguidos pelo regime – entraram na alça de mira dos militares (leia a movimentação histórica dos protestantes à pág. 80). Enquanto líderes conservadores propagavam o discurso da Guerra Fria em torno do medo do comunismo nos templos e recrutavam formadores de opinião, jovens batistas, metodistas e presbiterianos, principalmente, com ideias liberais eram interrogados, presos, torturados e mortos. “Fui expulso, com mais oito colegas, do Seminário Presbiteriano de Campinas, em 1962, porque o nosso discurso teológico de salvação das almas passava pela ética e a preocupação social”, diz o mineiro Zwinglio Mota Dias, 70 anos, pastor emérito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil, da Penha, no Rio de Janeiro. Antigo membro do Centro Ecumênico de Documentação e Informação (Cedi), que promovia reuniões para, entre outras ações, trocar informações sobre os companheiros que estavam sendo perseguidos, ele passou quase um mês preso no Doi-Codi carioca, em 1971. “Levei um pescoção, me ameaçavam mostrando gente torturada e davam choques em pessoas na minha frente”, conta o irmão do também presbiteriano Ivan Mota, preso e desaparecido desde 1971. Hoje professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, Dias lembra que, enquanto estava no Doi-Codi, militares enviaram observadores para a sua igreja, para analisar o comportamento dos fiéis.

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Segundo Rubem Cesar Fernandes, 68 anos, antropólogo de origem presbiteriana, preso em 1962, antes do golpe, por participar de movimentos estudantis, os evangélicos carregam uma mancha em sua história por convidar a repressão a entrar na Igreja e perseguir os fiéis. “Os católicos não fizeram isso. Não é justificável usar o poder militar para prender irmãos”, diz ele, considerado “elemento perigoso” no templo que frequentava em Niterói (RJ). “Pastores fizeram uma lista com 40 nomes e entregaram aos militares. Um almirante que vivia na igreja achava que tinha o dever de me prender. Não me encontrou porque eu estava escondido e, depois, fui para o exílio”, conta o hoje diretor da ONG Viva Rio.

O protestantismo histórico no Brasil também registra um alto grau de envolvimento de suas lideranças com a repressão. Em sua tese de pós-graduação, defendida na Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), Daniel Augusto Schmidt teve acesso ao diário do irmão de José, um dos delatores de Anivaldo Padilha, o bispo Isaías. Na folha relativa a 25 de março de 1969, o líder metodista escreveu: “Eu e o reverendo Sucasas fomos até o quartel do Dops. Conseguimos o que queríamos, de maneira que recebemos o documento que nos habilita aos serviços secretos dessa organização nacional da alta polícia do Brasil.” Dono de uma empresa de consultoria em Porto Alegre, Isaías Sucasas Jr., 69 anos, desconhecia a história da prisão de Padilha e não acredita que seu pai fora informante do Dops. “Como o papai iria mentir se o cara fosse comunista? Isso não é delatar, mas uma resposta correta a uma pergunta feita a ele por autoridades”, diz. “Nunca o papai iria dedar um membro da igreja, se soubesse que havia essas coisas (torturas).” Em 28 de agosto de 1969, um exemplar da primeira edição do jornal “Unidade III”, editado pelo pai do ministro da Saúde, foi encaminhado ao Dops. Na primeira página, há uma anotação: “É preciso ‘apertar’ os jovens que respondem por este jornal e exigir a documentação de seu registro porque é de âmbito nacional e subversivo.” Sobrinho do pastor José, o advogado José Sucasas Hubaix, que mora em Além Paraíba (MG), conta que defendeu muitos perseguidos políticos durante a ditadura e não sabia que o tio havia delatado um metodista. “Estou decepcionado. Sabia que alguns evangélicos não faziam oposição aos militares, mas daí a entregar um irmão de fé é uma grande diferença.”

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Nenhum religioso, porém, parece superar a obediência canina ao regime militar do pastor batista Roberto Pontuschka, capelão do Exército que à noite torturava os presos e de dia visitava celas distribuindo o “Novo Testamento”. O teólogo Leonildo Silveira Campos, que era seminarista na Igreja Presbiteriana Independente e ficou dez dias encarcerado nas dependências da Operação Bandeirante (Oban), em São Paulo, em 1969, não esquece o modus operandi de Pontuschka. “Um dia bateram na cela: ‘Quem é o seminarista que está aqui?’”, conta ele, 21 anos à época. “De terno e gravata, ele se apresentou como capelão e disse que trazia uma “Bíblia” para eu ler para os comunistas f.d.p. e tentar converter alguém.” O capelão chegou a ser questionado por um encarcerado se não tinha vergonha de torturar e tentar evangelizar. Como resposta, o pastor batista afirmou, apontando para uma pistola debaixo do paletó: “Para os que desejam se converter, eu tenho a palavra de Deus. Para quem não quiser, há outras alternativas.” Segundo o professor Maurício Nacib Pontuschka, da Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo, seu tio, o pastor-torturador, está vivo, mas os dois não têm contato. O sobrinho também não tinha conhecimento das histórias escabrosas do parente. “É assustador. Abomino tortura, vai contra tudo o que ensino no dia a dia”, afirma. “É triste ficar sabendo que um familiar fez coisas horríveis como essa.”

Professor de sociologia da religião na Umesp, Campos, 64 anos, tem uma marca de queimadura no polegar e no indicador da mão esquerda produzida por descargas elétricas. “Enrolavam fios na nossa mão e descarregavam eletricidade”, conta. Uma carta escrita por ele a um amigo, na qual relata a sua participação em movimentos estudantis, o levou à prisão. “Fui acordado à 1h por uma metralhadora encostada na barriga.” Solto por falta de provas, foi tachado de subversivo e perdeu o emprego em um banco. A assistente social e professora aposentada Tomiko Born, 79 anos, ligada a movimentos estudantis cristãos, também acredita que pode ter sido demitida por conta de sua ideologia. Em meados dos anos 60, Tomiko, que pertencia à Igreja Evangélica Holiness do Brasil, fundada pelo pai dela e outros imigrantes japoneses, participou de algumas reuniões ecumênicas no Exterior. Em 1970, de volta ao Brasil, foi acusada de pertencer a movimentos subversivos internacionais pelo presidente da Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor, onde trabalhava. Não foi presa, mas conviveu com o fantasma do aparelho repressor. “Meu pesadelo era que o meu nome estivesse no caderninho de endereço de alguma pessoa presa”, conta.

Parte da história desses cristãos aterrissará no Brasil na terça-feira 14, emaranhada no mais de um milhão de páginas do Projeto Brasil: Nunca Mais repatriadas pelo Conselho Mundial de Igrejas. Não que algum deles tenha conseguido esquecer, durante um dia sequer, aqueles anos tão intensos, de picos de utopia e desespero, sustentados pela fé que muitos ainda nutrem. Para seguir em frente, Anivaldo Padilha trilhou o caminho do perdão – tanto dos delatores quanto dos torturadores. Em 1983, ele encontrou um de seus torturadores em um baile de Carnaval. “Você quis me matar, seu f.d.p., mas eu estou vivo aqui”, pensou, antes de virar as costas. Enquanto o mineiro, que colabora com uma entidade ecumênica focada na defesa de direitos, cutuca suas memórias, uma lágrima desce do lado direito de seu rosto e, depois de enxuta, dá vez para outra, no esquerdo. Um choro tão contido e vívido quanto suas lembranças e sua dor.

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