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segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Quando não nos importamos com o sofrimento do próximo

Quando não nos importamos com o sofrimento do próximo
Mateus 4. 12-23

Nessa reflexão observaremos alguns aspectos da vida de Jesus, especialmente quando Ele nos desperta a atenção no aspecto de cuidar daqueles que sofrem.
Domingo após domingo entramos na igreja com o nosso carro, ou te táxi ou agora de Uber, bem arrumados, cheirosos, com dinheiro no bolso, um emprego estável, família em paz e próspera... é claro que essa não é a realidade de todos, mas digamos de uma boa parcela da comunidade. Entramos no templo, desfilamos com a nossa ofertas nas mãos aos olhos de todos, distribuímos e comungamos do Corpo e do Sangue de Jesus e... voltamos para a nossa casa. Alguns vão a um restaurante, vão passear e gastar mais um pouco de seus recursos. Isso não está errado! Errado é quando fazemos tudo isso e não olhamos ao nosso redor e vemos irmãos e irmãs, famílias e pessoas que nem conhecemos nas ruas passando fome, pais sem ter o que dar de comer a sua família, irmãos e irmãs endividados por conta da crise que assola não só o nosso país, mas o Mundo de uma forma geral. Errado é você encenar esse papel de “cristão modelo”, um sepulcro caiado. Sua vida, agindo assim, desprezando a dor e o sofrimento do seu próximo, de nada vale...apenas ser pisada pelos porcos.

O Evangelho de Jesus é diferente. Ele regenera e ele transforma. As atitudes do verdadeiro cristão são diferentes desse...”cristão modelo” que se acha mais espiritual do que todos. Que está na igreja todo domingo. No entanto, sua vida não foi transformada. E é isso que vemos nos últimos tempos. A igreja servindo de um grande teatro com vários atores encenando uma peça. Existem aqueles que acham que assim está tudo bom. Existem aqueles que se incomodam, porém nada fazem para que isso mude; existem aqueles que se incomodam, falam, protestam, mas o seu som é abafado; e existem aqueles que diante do que vê e, experiente, apenas retira-se e, a sós com Deus, vive a sua vida.

Diante dessa realidade somos conduzidos para refletir: 1) sobre a atividade de Jesus na Galileia; 2) sobre o chamado dos primeiros quatro discípulos; 3) sobre uma espécie de resumo do que Jesus fazia.

Por que na Galileia? É significativo que Jesus tenha iniciado sua atividade de pregador da mensagem do Reino de Deus exatamente no local mais pobre e desprezado da Judeia. Situada longe da capital, dela nada se espera, especialmente progresso.
É significativo que Jesus comece sua atividade de Messias para deixar claro que sua missão é romper com todo tipo de injustiça. Porque povo algum poderá ser feliz vivendo sob a opressão e a indiferença dos demais. Por isso a mensagem do Evangelho e do projeto de Jesus era justamente anunciar a preferência do Pai pelos pobres excluídos da vida social e do próprio Templo de Jerusalém.

A causa das trevas da Galileia judaica não era a falta de luz do sol, mas o abandono e o desprezo em que vivia seu povo pela falta de sensibilidade dos governantes para com aquela região. E as “Galileias” próximas de nós? Quais serão as mais escuras? Devemos cultivar primeiro nossa sensibilidade para com os irmãos que nós deixamos no escuro do esquecimento, da indiferença, do preconceito. Perdemos a capacidade de nos importar com o sofrimento dos “moradores de rua”, abafando a nossa consciência com desculpas, chamando-os de vagabundos ... Aceitamos a situação de injustiça com a cegueira de covardes, piores que os cegos, porque não queremos ver. A indiferença é uma escuridão enorme, porque as pessoas são indiferentes ao sofrimento dos pobres. Além dessa indiferença, estamos sujeitos à “cultura do descarte” do ser humano, tanto faz como fez. O Papa Francisco fala firmemente que a indiferença “é um intolerável jugo”.

Para levar-lhes a Luz do Evangelho de Cristo, visualizado em nossas atitudes de respeito e amor fraterno, devemos deixar-nos iluminar (Evangelho, sacramentos) para que, desse modo, nos tornemos iluminadores.

O próprio Jesus iniciou sua missão lançando sua luz justamente no local mais cheio de trevas, a Galileia. Por isso, já deveríamos ter começado a nos iluminar há muito tempo. Qual era o trabalho de Jesus na Galileia? Inicialmente, Jesus mostrou que até eles, os pobres excluídos, deveriam converter-se. Converter-se significa mudar a maneira de pensar e de viver, para aceitar e pôr em prática essa preferência do Pai. O início da atividade de Jesus se deu na Galileia para mostrar que ele queria começar sua missão no lugar mais difícil e mais necessitado de transformação. Fica muito clara a preferência de Jesus, igual à do Pai.

Os pobres, no olhar de Jesus, são todas as pessoas que sofrem por ser vítimas de qualquer desigualdade: religiosa, social, cultural, econômica, política etc. Essa atividade prática no cotidiano de Jesus mostra claramente que ele traz para os pobres o Reino de Deus.

Depois, é a vez do chamado dos primeiros quatro discípulos: os irmãos Pedro e André e, em seguida, os dois filhos de Zebedeu, Tiago e João. A reação dos quatro foi a mesma: rapidamente, deixaram tudo e passaram a acompanhar Jesus. Chegaram ao ponto de deixar a companhia do próprio pai, que significava o ponto de relação estreita entre a família, as tradições e a cultura de sua história. O efeito do chamado no coração deles foi tal que deixaram até o que poderia ser mais sagrado, para não recusar Jesus e sua missão. Seguindo Jesus, eles foram treinando o que deveriam fazer inspirados por ele. Jesus comparou sua tarefa com a deles, em sua profissão de pescadores; mas lhes disse que, dali em diante, não seriam mais pescadores de peixes, mas de gente, ensinando a converter-se para acolher o anúncio da Boa Notícia da salvação e curando os doentes como testemunho da libertação plena que Jesus trazia. A tarefa a que os convidou não era fácil, mas os entusiasmou de tal modo que nunca mais a largaram.

Diác. Nelson de Paula Pereira
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Adaptado de PEREIRA, Augusto César. Meditando a Palavra. V. 5. 1ª edição. São Paulo: Paulus, 2015.

REV. NEHEMIAS MARIEN - O PASTOR DA BÍBLIA

Rev. Nehemias Marien (1932-2007)

"Sim, cada pessoa morta deixa um bem, sua memória, e exige que alguém cuide dele. Para quem não tem amigos, um magistrado deve encarregar-se disso, para a lei, a justiça é mais digna de confiança do que nossas ternuras desatentas, nossas lágrimas logo estancadas. Esse magistrado é a história... Nunca em toda minha existência perdi isso de vista, o dever do historiador. Dei a muitos mortos, cedo demais esquecidos, o auxilio de que eu mesmo terei necessidade. Eu exumei para uma Segunda vida." Jules Michelet (1798-1874), historiador francês 

No último dia 18/01/2017, completou 10 anos do falecimento do "Pastor da Bíblia". Estamos falando do Rev. Nehemias Marien (1932-2007). Ele estaria com 84 anos de idade.

O Rev. Nehemias Marien nasceu em 27/04/1932, na cidade de Buriti, Mato Grosso, filho do Rev. Alfredo Marien e Paulina Mendes Marien. Seus pais eram Missionários e Nehemias foi consagrado ao Senhor ainda no ventre materno. Sentiu-se vocacionado por Deus ao ler o Livro do Profeta Isaías. Educado em Culto Doméstico, foi conhecido, como veremos mais adiante, como o “Pastor da Bíblia”, por ter assimilado seus ensinamentos e os entesourados em sua vida desde a infância.(1)

Estudou no Grupo Escolar Francisco Glicério, em Campinas, SP; no Instituto José Manoel da Conceição, em Jandira, SP; e, no Colégio Alfredo Pucca, São Paulo, SP. Professou a sua fé na Igreja Presbiteriana de Formosa, Goiás, onde seu pai era o pastor. Iniciou o curso de teologia no Seminário Presbiteriano de Campinas, SP. Foi licenciado pelo Presbitério de Ribeirão Preto, SP e ordenado pelo Presbitério de Casa Branca, SP. Pastoreou a Igreja Presbiteriana de Casa Branca, SP. Casou-se com a Profª Eglé Aparecida Soares Marien em 08/04/1962, na Igreja Presbiteriana Central de Campinas, sendo celebrante o Rev. Natanael de Almeida Leitão. O casal teve três filhos: Inayé Christiane, Jonas André e Deborah Christie.

Rev. Nehemias e família
Em 1966 o Rev. Nehemias passa a ser Pastor Auxiliar da Igreja Presbiteriana de Copacabana, no Rio de Janbeiro, RJ, pastoreada pelo Rev. Benjamin de Moraes Filho. A Igreja passou a contar com os seguintes pastores auxiliares: Rev. Laudelino de Oliveira Lima Filho, Rev. Elias Medeiros, Rev. Nehemias Marien e o Rev. José de Cássio Martins; este último, de regresso dos EUA foi novamente convidado para ser Pastor Auxiliar e permaneceu até o ano de 1971. Em 29/01/1969 o Rev. Jonas Neves Rezende inicia suas atividades como Pastor Auxiliar da Igreja.

Em 16/07/1972, o Rev. Benjamin Moraes recebe o título de Pastor Emérito da Igreja Presbiteriana de Copacabana. Em 24/09/1972, é realizado o culto de gratidão, com a entrega do certificado.

Diploma de Pastor Emérito do Rev. Benjamin de Moraes Filho
Nesse mesmo dia tomam posse como pastores efetivos da Igreja Presbiteriana de Copacabana, os Rev. Nehemias Marien e Rev. Jonas Neves Rezende.


Em 19/07/1981, no 70º aniversário do Rev. Benjamin, foi inaugurada uma sala, com a placa “Sala Rev. Benjamin Moraes” ocasião em que foi comemorado o seu Jubileu de Ouro Ministerial e a sua jubilação, sendo ele saudado pelo Rev. Nehemias Marien, então Pastor Efetivo da Igreja, com as seguintes palavras:

“Com a Graça divina, soubestes conduzir, com prudência e sabedoria, o abençoado ministério da vossa tão sagrada vocação. Os vossos cabelos se embranqueceram na Seara do Senhor. Semeastes com lágrimas, não raras, e estais ceifando os louros de quem, com tanto zelo, militou o bom combate da fé. Abristes largos horizontes teológicos para a nova geração que hoje responde pela igreja, firmando a mentalidade liberal, pluralista e ecumênica. Beijamos a vossa mão como sinal do mais profundo respeito e gratidão de toda uma Igreja ao decano do nosso Concílio, patriarca do presbiterianismo nacional e maior patrimônio espiritual do evangelismo pátrio”.(2)

Com a emerência do Rev. Benjamin Moraes, em 1972, tomam posse como pastores efetivos da Igreja de Copacabana os Revs. Nehemias Marien (1972 – 1985) e Jonas Neves Rezende (1972 – 1974), para um mandato de três anos. Ambos foram empossados pelo Presbitério do Rio de Janeiro. - PRJN.

Rev. Jonas Neves Rezende, Rev. Benjamin de Moraes Filho e Rev. Nehemias Marien
O Rev. Nehemias visando o seu aperfeiçoamento, cursou inglês na União Cultural Brasil Estados Unidos, em São Paulo; cursou Psicologia Pastoral na Universidade de Nottingham, Inglaterra; Doutrina Cooperativa, no Co-Operative College, de Londres, Inglaterra; mestrado em Ciências Bíblicas, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Foi Presidente do Presbitério de São João da Boa Vista, São Paulo; Vice-Presidente do Presbitério do Rio de Janeiro em 1974 e seu Presidente em 1975.

Foi Vereador e Presidente da Câmara Municipal de Casa Branca, São Paulo, onde lecionou a disciplina de inglês nessa cidade.

Foi agraciado com os títulos de Cidadão Casabranquense, Amigo da Associação dos Servidores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Cidadão Benemérito do Estado da Guanabara, Rio de Janeiro.

Foi Conselheiro da Federação de Bandeirantes do Brasil, Vice-Presidente da Campanha Nacional da Criança, Sócio do Rotary Club de Copacabana, Membro do Conselho Comunitário de Copacabana, Conferencista e Preletor em simpósios, painéis e debates, e Preletor de Bíblia do Ministério de Turismo e no Ministério de Educação e Cultura de Israel.

Como pastor protestante viajou para o Peru, Colômbia, Itália, França, Inglaterra, Escócia, Suíça, Grécia e Israel, além de muitas cidades do Brasil, dentre elas Teófilo Otoni, Minas Gerais, onde recebeu do Prefeito a “Chave da Cidade” e o título de Cidadão Honorário do município.

Em 1974, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro – ALERJ concede o título de Cidadão Benemérito do Estado do Rio de Janeiro ao Rev. Nehemias Marien.

Pastor Presbiteriano, por onde quer que fosse procurava se posicionar com a mentalidade liberal, pluralista e ecumênica, mantendo contato com autoridades civis, executivas, militares, oportunidade que tinha de pregar o Evangelho de Jesus Cristo, sempre levando palavras de vida e de conforto.

Com autorização do Conselho da Igreja Presbiteriana de Copacabana, o Rev. Nehemias Marien iniciou uma série de cultos ecumênicos (Igreja Presbiteriana de Copacabana X Igreja Católica Apostólica Romana de Nossa Senhora de Copacabana). Por muitos anos participou do programa “O Céu é o Limite”, na TV Tupi-Rio de Janeiro, dirigido pelo apresentador João Silvestre, respondendo com brilhantismo perguntas sobre a Bíblia. Na década de 1970 tal programa atingiu 84 pontos na audiência.(3) Nesse período ele passa a ser conhecido como o “Pastor da Bíblia”. Diante de tamanha projeção, o Rev. Nehemias Marien, autorizado pelo Conselho, inicia grande ação evangelizadora pelo País.

Com a saída do Rev. Jonas Neves Rezende, prosseguem no pastorado da Igreja o Rev. Nehemias Marien e o Pastor Emérito Rev. Benjamin de Moraes Filho.

Na Semana Santa de 1974, o jovem pastor da Igreja Presbiteriana de Cachoeiro do Itapemirim, Espírito Santo, Rev. Guilhermino Silva da Cunha, é convidado para dirigir a conferência de Páscoa da Igreja. No final desse ano, o Conselho aceita o convite feito pelo Rev. Nehemias Marien ao Rev. Guilhermino Silva da Cunha para ser o Pastor Auxiliar da Igreja (4), pedido esse aprovado pelo Presbitério do Rio de Janeiro.(5)

Em 1976, a Igreja adquiriu a loja do pavimento térreo do edifício ao lado do seu imóvel na Rua Paula Freitas, com a finalidade de ali criar uma livraria para divulgação do Evangelho, sonho esse que seria concretizado no dia 18/09/1977, com a inauguração da "Casa da Bíblia", com a presença do Senador José de Magalhães Pinto e sua esposa Berenice. Foram seus Presidentes o Rev. Guilhermino Silva da Cunha e o Presb. Ivo Carvalhal. A Casa da Bíblia teve como Gerente o Diác. Gérson Gierzkisvivz e anos depois por nossa irmã Hilta Balmant Alves Sathler.

Inauguração da Casa da Bíblia
Em 1977 tem início um trabalho evangelístico na Ilha de Paquetá, Rio de Janeiro, na residência dos irmãos Marcelo Augusto Limoeiro Cardoso, sua esposa Lúcia e Pedro e Carmita Serafim. Em 13/01/1979, o trabalho é oficializado com o nome de CEU de Paquetá (Cenáculo Evangélico Unido); posteriormente, passou a ser realizado na Praia dos Tamoios, 505. Além do trabalho da ilha de Paquetá, a Igreja iniciou outro em Vila das Canoas, São Conrado, RJ, dentre vários esforços de evangelização que tiveram início, prosseguiram e se encerraram, como é o exemplo dos que ocorreram na Ladeira do Leme (6), Comunidade do Vidigal (O Semeador), Rua Marquês de São Vicente (Canaan), Rua dos Oitis (Betel), Comunidade da Catacumba (Gethsêmani) (7).

Há de se destacar que sob o pastorado do Rev. Nehemias Marien o Edifício de Educação Religiosa é ampliado (construído o 4º Pavimento); o coral da Igreja passa a se chamar “Coral Haydéa Moraes”; organizada a Creche “Lar Presbiteriano”; a União de Mocidade Presbiteriana se destaca por sua atuação espiritual, cultural, musical e evangelística tomando um grande impulso, tendo, inclusive, formado dois famosos grupos musicais, o “Rebanhão” e o “Sinal Verde”, bem como o grupo teatral “Nova Aliança”. A mocidade de Copacabana também era a responsável pela direção de alguns pontos de pregação. Idealizado pelo Presb. Josias de Carvalho Argons são organizados os “Encontros de Casais”, com a finalidade de reunir mensalmente os casais da Igreja para estudar assuntos bíblicos.

Capa do LP do Grupo Rebanhão
Em 1979, o Rev. Carlos Octaviano Ferreira Simões é convidado pelo Rev. Nehemias Marien para auxiliar na Igreja. Ele, procedente da Igreja Metodista. Entretanto, somente em 08/02/1981 é empossado oficialmente como Pastor Auxiliar, depois de ter sido recebido no Presbitério do Rio de Janeiro.

Capa do LP do Grupo Sinal Verde
Quando da visita do Papa João Paulo II, em 1980, e atendendo ao convite recebido, estiveram presentes à Sessão Solene dos Bispos do Conselho Episcopal Latino-Americano – CELAM, realizada na Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro, o Rev. Benjamin Moraes Filho, representando a United Bible Societys (Sociedade Bíblica Unidas) e o Rev. Nehemias Marien, representando a Comunidade Cristã-Judaica.

Reunião do Encontro de Casais
Em 1981, deixa o pastorado auxiliar de nossa Igreja o Rev. Guilhermino Silva da Cunha, designado que foi, pelo Presbitério do Rio de Janeiro, para assumir o pastorado efetivo da Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro.

Em 04/09/1982, faleceu a última remanescente dos membros fundadores da Igreja Presbiteriana de Copacabana, Maria Rosalina da Costa, aos 104 anos, viúva do Presb. Dorotheu Alfredo Costa.

Em agosto de 1983, o Coral Haydéa Moraes passou a ser dirigido pelo Rev. João Wilson Faustini, reconhecido internacionalmente no meio musical-protestante. Ele permaneceu até dezembro de 1983 quando emigrou para os EUA. Em 1984, é convidado o Rev. Carlos Alberto Chaves Fernandes para ser pastor auxiliar da Igreja Presbiteriana de Copacabana.

Em 1985, posicionamentos teológicos fizeram com que o Rev. Nehemias Marien deixasse a Igreja Presbiteriana de Copacabana, juntamente com um grupo convicto de seu ministério pastoral. Sem templo, este grupo primeiramente se reunia aos domingos nas dependências de uma agência de turismo na Rua Visconde de Caravelas, depois nas do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, na Rua Visconde Silva, todos em Botafogo, e nas instalações da Igreja Cristã de Confissão Reformada em Ipanema, na Rua Joana Angélica, 203. Desde logo o Rev. Nehemias Marien solicita ao Presbitério do Rio de Janeiro – PRJN a sua transferência para a Igreja Cristã de Confissão Reformada em Ipanema, o que de fato foi formalizado pela Assembleia da Igreja, mas depois pediu sua transferência para a Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (8). Posteriormente ele e alguns irmãos adquiriram um terreno na Rua Guimarães Natal, 31, em Copacabana e ali construíram um templo. Organizaram-se como Igreja Presbiteriana Unida Bethesda que imediatamente esteve ligada à Igreja Presbiteriana Unida do Brasil, desligando-se dela tempos depois, juntamente com outros pastores, dentre eles o Rev. Domício Pereira de Mattos. Em 19/01/2007, faleceu o Rev. Nehemias Marien.

A Igreja Bethesda é apresentada como “Uma Igreja sem fronteiras e de fato ecumênica” (9). É pastoreada pela Rev. Eglé Aparecida Soares Marien, viúva do Rev. Nehemias Marien.

Prof. Nelson de Paula Pereira
Historiador
contato@nelsondepaula.com
www.nelsondepaula.com

Rev. Eglé Marien e o Diácono Nelson de Paula Pereira

FONTES:

1. IPC. Programa do culto solene alusivo a elevação à dignidade de Pastor Emérito do Rev. Dr. Benjamin Moraes e Posse dos Pastores Efetivos Rev. Nehemias Marien e Rev. Jonas Neves Rezende. Rio de Janeiro, 1972.
2. BARBOSA, Licínio Leal. Benjamin Moraes – Traços para o perfil de sua vida e obra. In Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás UFG. Goiás: Volume 5, nº 1-2, 1981, p. 16.
3. Disponível em Acesso em 21/10/2013.
4. CÉSAR. Erlie Lenz. Os setenta anos de uma igreja abençoada. Rio de Janeiro, 1983, p. 93.
5. APRJN. Carta da Igreja Presbiteriana de Copacabana ao Presbitério do Rio de Janeiro. 30/12/1974.
6. IPC. Atas da Sessão (Conselho) da Igreja Presbiteriana de Copacabana, 11/05/1918, livro 01, p. 40v.
7. IPC. Uma comunidade viva, operosa, dinâmica. Rio de Janeiro: Princeps Gráfica e Editora Ltda, s/d.
8. APRJN. Carta da Igreja Cristã de Confissão Reforma ao Presbitério do Rio de Janeiro, 11/09/1995.
9. Disponível em Acesso em 21/10/2013.

domingo, 22 de janeiro de 2017

LEMBRA-TE QUE ÉS MORTAL

The Triumph of Titus and Vespasian - Giulio Romano (1499-1546)
O Triumphus Romanus - era uma cerimônia civil e rito religioso da Roma Antiga, feito para homenagear publicamente o comandante militar de uma guerra ou campanha no estrangeiro notavelmente bem sucedida e para exibir as glórias da vitória romana. Aqueles que recebiam esta distinção eram denominados triunfadores.

Um triunfo romano era realizado para comemorar publicamente as realizações de um comandante do exército que tinha sido bem sucedido em uma investida militar. Originalmente e tradicionalmente, que ele e o seu exército tinham concluído com êxito uma guerra. O general triunfante era chamado de vir triumphalis (homem triunfador), e mantinha o direito de ser descrito como tal pelo resto de sua vida.

O triunfo foi a maior e a mais procurada honra entre a nobreza hereditária que construiu e governou o Império Romano, cuja ética era essencialmente a de uma classe dominante agrícola e militante. Depois de sua morte, enquanto sua família estava enlutada, ele era representado no funeral de cada descendente por um ator contratado usando sua máscara de morte (imago) e vestido com toda a toga picta triunfal roxa e dourada que simbolizava a suprema realização de sua vida.

Para receber um triunfo, o dux (líder) deveria:

1. Ganhar uma vitória significativa sobre um inimigo estrangeiro, matando pelo menos cinco mil tropas inimigas, e ganhando o título de imperador.
2. Ser um magistrado eleito com o poder do império, ou seja, um ditador, cônsul ou um pretor.
3. Trazer o exército para casa, significando que a guerra havia terminado e o exército não era mais necessário. Claro que isso só se aplicava à era republicana quando o exército era um exército de cidadãos. Pelo período imperial, quando o exército era profissional, o triunfo apropriado era reservado para o imperador e sua família. Se um general fosse premiado com um triunfo pelo imperador, ele marcharia com um número simbólico de suas tropas.

A última exigência, por vezes, levou a que os homens merecedores lhes fossem negados seus triunfos, ou triunfos sendo concedidos em bases duvidosas. Deve-se notar que o inimigo teria que ser estrangeiro. Conflitos internos, em teoria, não merecia triunfos. O exército também tinha que ser de igual status. Derrotar uma revolta de escravos não era motivo de triunfo. Muitas vezes, uma ovação era concedida para uma campanha bem-sucedida que não satisfizesse os requisitos de um triunfo total. Após o estabelecimento do Principado, apenas os membros da família Imperial foram recompensados com triunfos. Outros cidadãos foram recompensados com Ornamenta triumphalia (ornamentos triunfais) para que a família Imperial pudesse manter a ordem e assegurar o poder.

A ordem normal do desfile triunfal era:

1. O Senado, dirigido pelos magistrados sem seus lictores (funcionários públicos encarregados de ir a frente de um magistrado com feixes de varas denominados fasces, abrindo espaço para que esse pudesse passar).
2. Trompetistas.
3. Carros com os despojos da guerra para demonstrar os benefícios concretos da vitória.
4. Touros brancos para o sacrifício.
5. Os braços e as insígnias dos líderes do inimigo conquistado.
6. Os próprios líderes inimigos, com seus parentes e outros cativos.
7. Os lictores do Imperador, seus fasces enrolados com laurel.
8. O próprio imperador em uma carruagem puxada por dois cavalos (mais tarde quatro).
9. Os filhos adultos e oficiais do imperador.
10. O exército sem armas ou armaduras (uma vez que a procissão iria levá-los dentro do pomerium - fronteira simbólica de Roma), mas vestindo togas e grinaldas. Durante os períodos posteriores, apenas uma companhia selecionada de soldados seguiria o comandante no triunfo.

O Imperador tinha o rosto pintado de vermelho e usava uma coroa triumphalis, uma túnica palmata e uma toga picta (pintada). 



Tradicionalmente, acredita-se que era acompanhado em sua carruagem por um escravo segurando uma coroa de ouro acima da cabeça e constantemente lembrando o comandante de sua mortalidade, sussurrando em seu ouvido. As palavras que o escravo diz ter usado não são conhecidas, mas as sugestões tradicionais incluem: "Respica te, hominem te memento" (olhe atrás de você, lembre-se que você é apenas um homem) e "Memento mori" (lembra-te que és mortal).



Muitas vezes, a ordem de progressão triunfal foi variada pelo triunfador, acrescentando animais exóticos, músicos e escravos carregando imagens de cidades conquistadas e sinais com os nomes de pessoas conquistadas. Devido aos muitos estágios de um triunfo listados acima, Gaius Suetonius Tranquillus (69-140 d.C.), Historiador Romano, alega que o imperador Vespasiano lamentou seu próprio triunfo porque o seu comprimento vasto e movimento era lento entediado ele.



A Cerimônia

A cerimônia do triunfo começava com o triunfador caminhando fora das muralhas servianas no Campo de Mártir, na margem ocidental do Rio Tibre. Ele então entraria na cidade em seu carro através da Porta Triumphalis, só aberto para estas ocasiões. Ele então entrava no pomerium e tecnicamente entregava o seu comando. Na porta, o triunfador era recebido pelo senado e pelos magistrados, que o acompanhavam. O desfile prosseguia pelas ruas de Roma sob uma estrita rota. A progressão seguia ao longo da Via Triumphalis Circus Faminius e o Circus Maximus. Às vezes (nem sempre) o governante inimigo capturado era levado para o Tallianum (Prisão Mamertina no Fórum de Roma) onde ele seria estrangulado.

Fonte:
Roma Fan Wiki - Entertainment In Ancient Rome
Disponível em: http://romewiki.wikifoundry.com/page/Entertainment+In+Ancient+Rome
Acesso em: 22/01/2017.

Prof. Nelson de Paula Pereira
Historiador
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quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

BIDU SAYÃO


Bidu Sayão

Balduína de Oliveira Sayão, mais conhecida como Bidu Sayão, nasceu em Itaguaí, Estado do Rio de Janeiro, Brasil, em 11 de maio de 1902 e faleceu em Rockport, Maine, EUA, em 13 de março de 1999). Bidu foi uma célebre intérprete lírica brasileira.Considerada uma das maiores estrelas da ópera de todos os tempos, foi uma das maiores intérpretes do Brasil.

Filha de Pedro Luiz de Oliveira Sayão e de Maria José da Costa Oliveira Sayão, Bidu Sayão começou estudando canto com Elena Theodorini, uma romena que então vivia no Brasil. Elena a levou para a Romênia, onde continuou seus estudos. Mais tarde, foi para Nice, na França, onde foi aluna de Jean de Reszke, um tenor polonês que a ajudou a consolidar sua técnica vocal. Bidu estreou em 1926 no Teatro Costanzi de Roma, no papel de Rosina em O Barbeiro de Sevilha, de Rossini. Sua estreia no Metropolitan Opera House de Nova Iorque se deu em 1937 no papel de Manon na ópera de Massenet.

Foi parte do elenco do Metropolitan durante muitos anos. Arturo Toscanini era seu admirador, referindo-se a ela como la piccola brasiliana (traduzido do italiano, significa "a pequena brasileira"). Em fevereiro de 1938, cantou para o casal Roosevelt na Casa Branca. Roosevelt lhe ofereceu a cidadania estadunidense, mas ela recusou. De acordo com ela mesma, "no Brasil eu nasci e no Brasil morrerei". Entretanto, ela morreu de pneumonia nos Estados Unidos em 1999, antes de completar 97 anos, sem realizar um de seus desejos: rever a Baía de Guanabara.

Havia uma viagem agendada para este propósito no ano de seu centenário, mas a soprano faleceu antes disso. Ao morrer, morava na cidade de Lincolnsville, no estado americano do Maine, onde residiu grande parte de sua vida.

Além da baixa estatura, Bidu Sayão tinha uma voz que a tornava mais adequada para os papéis femininos mais delicados e graciosos. Entre os papéis nos quais ela mais se destacou, podemos mencionar Mimì em La Bohème de Puccini, Susanna em As Bodas de Fígaro de Mozart, Zerlina em Don Giovanni, Violetta em La Traviata de Verdi, Gilda em Rigoletto, Zerbinetta em Ariadne auf Naxos de Richard Strauss, e os papéis femininos principais em Romeu e Julieta de Gounod e Pelléas et Mélisande, a única ópera de Debussy.

Fonte: Bidu Sayão - Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Bidu_Say%C3%A3o
Acesso em: 18/01/2017.

Bidu Sayão
"A ópera está no fim"

De volta ao Brasil, a grande soprano diz que o canto lírico não lhe agrada mais

Por Maria Helena Dutra

Por pouco, um incidente na chegada acabava estragando a festa do retorno. Depois de vinte anos ausente do Brasil, Bidu Sayão voltou, em novembro, para presidir o júri do Concurso Internacional de Canto promovido pelo Museu Villa-Lobos. Na bagagem, a cantora trouxe uma série de gravações não comerciais, editadas por um amigo seu a partir de velhas matrizes de programas de rádio. E a alfândega brasileira a recebeu com a notícia de que os discos só entravam por 15.000 cruzeiros. No final tudo acabou bem, graças ao esforço de funcionários do Theatro Municipal carioca, da Riotur, e à interferência do próprio ministro Delfim Netto, da Fazenda. Com os discos - suas lembranças -, Bidu reencontrou sua terra, da qual saíra em 1937 para uma carreira brilhante de estrela internacional.
Nascia na praça Tiradentes, no Rio, há 67 anos, Balduína de Oliveira Sayão decidiu, aos 13 anos, trocar os bailes e namorados por uma definida ambição: "Queria ser alguém na vida, e resolvi cantar, já que não me permitiram ser atriz". Em 1927, saiu pela primeira vez do Brasil para se apresentar em teatros italianos. E, quando se mudou para os Estados Unidos, em 1937, alcançou logo o Metropolitan Opera House, de Nova York, do qual foi contratada durante dezesseis anos. Apesar de uma voz de pouco volume e extensão, suas performances foram sempre excelentes. "Por causa de sua excepcional clareza e pureza", escreveu em 1970 o crítico George Moshvon, do "High Fidelity Magazin", "atingia todos os cantos da sala. Ninguém jamais teve problemas para ouvir Sayão." Hoje, a ex-"prima donna" é uma mulher só, que enfrenta a velhice e a solidão, com tristeza e insegurança. Mas sem pose de heroína - e uma palpável dose de dignidade.

Maria Helena Dutra - Sua carreira foi toda feita no exterior. Dez anos na Itália e 22 nos Estados Unidos. Aos brasileiros, restaram apenas poucas récitas e alguns discos importados. Isso não lhe parece injusto com seu país?
Bidu - Os brasileiros mais jovens realmente podem reclamar. Os mais velhos, não. Cantei muito por aqui até me despedir fazendo a "Manon" de Massenet, em 1937. E só não voltei ao Brasil porque, depois daquela data, tive uma série de concertos e recitais que não me deram mais um momento livre. Em 1935 e 1936, em todo caso, participei de duas enormes turnês pelo país, indo de Manaus a Santana do Livramento. E não fiquei só nas grandes cidades ou no litoral. Fui a uma infinidade de cidades do interior. Cantei em teatros, em cinemas. E em algumas cidades menores cantei ao ar livre, em cima de um tablado, junto ao piano. Entrava quem podia e quem não podia pagar. Era um negócio muito mais patriótico do que lucrativo. Nas cidades onde não havia hotel, eu ficava em pensão ou em casas de pessoas que gostavam de música. As duas viagens, porém, foram grandes sucessos. Fico ofendida quando dizem que não sou patriota. Sempre represente minha terra com muita dignidade. Todas as minhas colegas do Metropolitan Opera House eram americanas naturalizadas. Menos eu, que vivo há 35 anos nos Estados Unidos.

Maria Helena Dutra - Os críticos costumam dizer que, embora segura e elaborada, sua voz é pequena. E que você teria feito sucesso porque conseguira compensar tudo com sua ótima presença como atriz. Isso é verdade? E o contrário: uma voz excepcional dispensa um bom ator?
Bidu - Nunca. Qualquer arte, para ser bem realizada, precisa ser estudada com paciência e sacrifício. E a arte lírica pressupõe o aprimoramento dos dois dotes: cantor e ator. No meu caso pessoal, eu queria ser primeiramente uma atriz, apesar da influência do meu tio Alberto Costa, médico de profissão, mas músico instintivo que mais tarde compôs várias canções para eu cantar. Na época, porém, por vários preconceitos, considerava-se uma desonra para a família ter uma atriz entre seus integrantes. Ainda mais eu que não tinha pai. Ele morreu quando fiz 4 anos de idade. E minha mãe e meu irmão, quinze anos mais velho, nem discutiam o assunto. Em todo caso, aos 13 anos acompanhei uma colega, Germana Mallet, a suas aulas de canto. Gostei do que vi e ouvi. E resolvi fazer um teste. Eu não tinha voz alguma quando comecei. Os professores me disseram que eu era muito nova ainda, que minha família ia gastar dinheiro à toa. Mas eu insisti, chorei muito, garanti que não me importava com baile, namorados, festas. E comecei a cantar. De fato, minha voz nunca foi especialmente privilegiada. Mas consegui, primeiro com meus professores, depois com o auxílio de meu segundo marido, o barítono Giuseppe Danise, trabalhar e elaborar minha voz e ser capaz de cantar peças mais difíceis. Acredito que uma atriz precise da mesma elaboração. no meu caso, felizmente, sempre fui uma atriz instintiva. Nunca tive uma lição de cena. Mesmo assim, os maestros quase nunca me corrigiram, porque eu sempre acertava.

Maria Helena Dutra - Você voltou ao Brasil para ser presidente de honra do júri de um concurso de canto, no recentemente encerrado Festival Villa-Lobos de 1973. Chegou a sentir nos jovens concorrentes a mesma perseverança e talento que a levaram ao sucesso?
Bidu - A gente sente o cantor quase na primeira audição. Foi o que aconteceu com a russa Nina Lebedeva, vencedora do Festival, solista de várias óperas no Teatro Bolshoi. Aliás, ela continuou a tradição de artistas socialistas vencerem concursos de canto no Brasil. Sem saber português, falando apenas duas frases de francês, Lebedeva apresentou uma "Bachiana n.º 5" de Villa Lobos, de grande qualidade. Senti que ela tinha escutado minha gravação. Eu me ouvia a mim mesma num estilo que só consegui alcançar ao ser dirigida pelo próprio Villa. O segundo prêmio ficou com a brasileira Marlene Guerra Ulhoa, sem tanto estilo e voz mas com qualidade. E o terceiro com a chilena Mary Ann Fones, a melhor das semifinais, mas muito nervosa nas "Bachianas" da finalíssima.

Maria Helena Dutra - Você conhece outra Bidu Sayão entro os novos brasileiros? E a música brasileira ainda atrai suas atenções?
Bidu - Eu sempre tive esperança de que alguma jovem brasileira viesse a tomar meu lugar. E, quando encontrei Maria Lúcia Godoy, soube que não precisava procurar mais. Sou muito assediada por iniciantes, principalmente brasileiros, e costumo agir impiedosamente porque acho um crime alimentar pretensões. Sem possibilidades, não dou esperança. Exatamente o contrário aconteceu com a Maria Lúcia - e eu fiquei de boca aberta quando a ouvi cantar. Quanto à música brasileira, eu a considero mais espontânea, alegre e variada da América Latina, tanto no campo erudito como no popular. No meu tempo, além de Villa, é lógico, interpretei muitas canções de Francisco Mignone, Ernâni Braga, Lorenzo Fernandes e Barroso Neto. Dos eruditos contemporâneos pouco conheço. Mas existem dois compositores populares brasileiros que, juro, se ainda cantasse, interpretaria com prazer: Antônio Carlos Jobim e Dorival Caymmi.

Maria Helena Dutra - Você se confessa sem mágoas ou ressentimentos do Brasil. Mas sofreu violenta vaia no Municipal em 1937. Logo após Bidu Sayão se despediu dos palcos brasileiros e terminou sua carreira sem sequer fazer um recital por aqui. Coincidência apenas?
Bidu - Apenas isso. As pessoas que fazem sucesso logicamente têm inimizades. E a vaia no Municipal foi causada e dirigida por Gabriela Besanzoni Lage, uma milionária que morreu na miséria na Itália. Tinha sido uma cantora magnífica, a melhor "Carmen" que já vi. Mas, embora não mais trabalhasse, morria de ciúme de todos os que apareciam. Quando fiz o "Guarani", de Carlos Gomes, no Rio, ela organizou um pessoal para me vaiar. O teatro inteiro, porém, começou a aplaudir e a vaia acabou. Gabriela, inclusive, fugiu do camarote em que se encontrava. Isso, em todo caso, foi uma coisa pequena, sem importância, que recordo sem raiva porque nunca tive inveja de ninguém. Depois dessa vaia ainda cantei, no Brasil, "La Bohème", "Romeu e Julieta", "Manon" e "Pelléas et Melisande". E fui contratada pelo Metropolitan de Nova York. Os compromissos me impediram de voltar. Só retornei ao Brasil em 1952, incógnita, para acompanhar os últimos momentos de vida de meu irmão. Depois, nos Estados Unidos, continuei minha carreira. Sempre pensei em voltar ao Brasil para me retirar. Em 1953, no entanto, deixei o Metropolitan aproveitando o ensejo de cantar novamente a "Manon". Sempre achei que dava sorte começar e terminar uma etapa com a mesma música - e eu tinha estreado no Met com a "Manon". Depois apenas dei concertos até 1958, quando me senti cansadíssima apesar de continuar em boas condições vocais. E numa inspiração de momento decidi acabar com minha carreira em três concertos no Carnegie Hall, onde cantei a "Demoiselle Elue", de Claude Debussy, a primeira peça que havia cantado nos Estados Unidos. Esta decisão foi causada, também, porque minha mãe já estava muito doente e com 90 anos. E meu marido se queixava muito de solidão, porque eu tinha uma vida de cigana. Considerei, então, que minha família valia mais. Compramos uma casa no Maine e encerrei a vida profissional. Por isso não pude fazer uma programação maior que incluísse o Brasil. Passei então a fumar, a tomar coquetéis, o que a profissão antes me impedia - mas foi muito duro parar. Eu vivia cheia de glórias, circundada de jornalistas. Na hora de me retirar, contudo, de repente ficou tudo vazio. Foi duro, mas escolhi essa solução.

Maria Helena Dutra - Um ano depois de tão súbita decisão você voltou a cantar e chegou mesmo a gravar com Villa-Lobos "A Floresta Amazônica". Saudades?
Bidu - Fiquei um ano sem cantar, sem abrir a boca, sem vocalizar. Até que me amigo Villa e sua mulher, a Mindinha, chegaram aos Estados Unidos. Villa tinha ido compor a trilha sonora do filme "Green Mansions", com Audrey Hepburn. A fita foi um fiasco. E, da música do Villa, sobraram só uns 10 minutos. Ele ficou indignado, eu nunca o vi tão amolado. Decidiu, então, gravar a obra, e me pediu que o ajudasse. Eu estava há um ano afastada. E só aceitei porque tive o pressentimento de que aquela seria a última gravação do Villa. E foi.

Maria Helena Dutra - O fato de seu primeiro marido, Walter Mocchi, ter sido empresário, segundo, Giuseppe Danise, ter sido um barítono de fama, não foi fundamental para o sucesso de sua carreira?
Bidu - Para se fazer uma carreira internacional é preciso ter perseverança, sorte e alguém que dê o impulso inicial, pois os empresários nunca querem principiantes. O fato de meu primeiro marido ter sido empresário, contudo, em nada contribuiu para o início da minha carreira internacional. Eu estreei, em 1927, no Teatro Constanza, de Roma, após ter feito uma série de audições para seus responsáveis. Consegui a chance porque tinha sido aluno de Jean De Rezky, em Nice, França, a única sul-americana que ele aceitou ensinar. Só dois anos depois, 1929, é que me casei com Walter, um sonhador, homem riquíssimo, que botava tudo que tinha no teatro. Quanto aos Estados Unidos, foi o maestro Arturo Toscanini, que conheci no Scala de Milão, quem me abriu as portas do Metropolitan. Ele queria uma voz especial e etérea para interpretar a "Demoiselle Elue" de Debussy. Tinha escutado todas as sopranos da América sem encontrar o que pretendia. Eu nem sabia disso, até que tivemos uma conversa sem compromissos. Aí, ele me levou para cantar o poema no Metropolitan, num concerto do qual participara todas as pessoas importantes da cidade. Afinal, apesar de desconhecida, e de nome exótico, eu era apresentada por Toscanini. Mas ainda, tive a sorte de cantar no ano do afastamento da soprano Lucrezia Bori, que tinha quase as mesmas características de voz. Assim mesmo, porém, até ser contratada pelo Metropolitan, ainda fiz mais duas audições. Seus responsáveis achavam que minha voz era pequena para o teatro e eu tive de demonstrar que podia atingir até as últimas poltronas. Dois anos depois, em 1939, separei-me de Walter e pouco tempo depois casei-me com Danise que, durante quinze anos, foi barítono do Metropolitan e depois se tornou, até morrer, em 1963, um grande professor. Através de estudo e muito exercício, ele foi o responsável pelo desenvolvimento de minha voz.

Maria Helena Dutra - Mas por que mesmo depois de se retirar você preferiu os Estados Unidos ao Brasil?
Bidu - Preferi não é bem o termo. Tanta coisa aconteceu comigo, nesta visita, depois de informados dos meus azares, passaram apenas a me dar figas como presente. Ao abandonar o canto, fiquei vivendo em Nova York, junto a meu marido, que dava aulas. Passávamos o tempo livre em nossa ampla casa no Maine, no norte do país, perto do Canadá. Em 1963, Danise morreu e fiquei desorientada. Percebi que não tinha a menor experiência com relação a nenhum problema prático. Não sabia fazer nada, só assinava cheques. Tive só duas fraquezas: uma com peles e a outra com jóias. Pensando assim, vivíamos nossos calmos e tranquilos dias quando ele morreu. O choque foi tanto que perdi 18 quilos em um mês. Mas sobrevivi por causa da minha mãe. Até que em 1966 ela morreu aos 94 anos. Senti-me abandonada no mundo. Horrível. Tinha dinheiro mas nenhuma felicidade. Passei a ter taquicardia, palpitações, suor frio e pulso irregular. Mas meu cardiologista não constatou nenhum problema mais grave. Era tudo angústia, nervosismo e preocupação. Fiquei com medo de vir ao Brasil e morrer de uma emoção mais forte. Depois fui me habituando a viver sozinha. E passei a dedicar carinho especial à minha casa, às minhas lembranças e saudades. Mas, certo dia, em junho de 1969, saí para fazer umas compras, com o meu empregado, misto de caseiro, jardineiro, chofer, tudo enfim, que me serve há 22 anos. Estava apenas com um slack, sem jóias, sem nada. Na volta, vimos de longe uma densa neblina. Mas quando cheguei perto não pude mais me enganar. O fogo estava destruindo minha casa. Nada foi possível fazer. Perdi tudo. As jóias que minha mãe tinha me dado, uma medalha feita pelo próprio Caruso com uma caricatura sua, minhas tapeçarias, móveis, lembranças, diplomas, placas, tudo. Provocado por um curto-circuito, o fogo acabou com as recordações de toda minha vida. Só se salvou um anel de água-marinha brasileira. Mas reconstruí tudo, a casa estava no seguro e o prejuízo financeiro não foi tão grande assim.

Maria Helena Dutra - E então conseguiu um pouco de tranquilidade?
Bidu - Minha filha, quando me dão figas é porque têm razão. Ainda não acabou, não. A casa ficou pronta em 1970. Dois anos depois ladrões estiveram lá e levaram tudo. Só não tocaram no que tinha as iniciais B.S. Mas de resto fizeram um limpíssimo trabalho profissional. Como podia vir para o Brasil e me divertir?

Maria Helena Dutra - Mesmo no seu retiro você ainda acompanha a vida musical dos Estados Unidos? E a ópera, seria um gênero em decadência?
Bidu - Hoje, a ópera não mais me diverte. Ainda existem espetáculos bonitos. Mas o teatro lírico está realmente um pouco decadente e fora de moda. Não por culpa do gênero que é eterno, mas pela insistência nos erros. O principal na ópera é o canto. Mal cantada vira uma caricatura. Os jovens de hoje, porém, mesmo alguns mais antigos, não têm paciência de estudar muito ou a modéstia de se guardarem apenas para os papéis que sejam adequados à sua voz e sensibilidade. Querem fazer tudo rápido e aparecer muito para ficarem ricos e famosos depressa. Isto mata a ópera e seus melhores talentos. Montserrat Caballé, minha cantora preferida, e Joan Sutherland são exceções nestas comédias de erros. Duas vítimas do mal de que falei antes são Maria Callas e Renata Tebaldi. Cantaram demais e em todos os gêneros de ópera: dramática, lírica, ligeira. Dizem que o problema de Callas foi sua gordura e o tratamento rigoroso a que se submeteu. Mas não é verdade. Foi a pressa. Aliás, outra mentira histórica da ópera é se dizer que os gordos têm a melhor voz. Bobagem. Mas insistem nesta mentira e o resultado são feias figuras no palco numa hora em que os jovens estão habituados a outra estética. Se a ópera insistir nessa tecla e nas montagens ultrapassadas vai realmente acabar.

Entrevista publicada originalmente na revista Veja, 12 de dezembro de 1973 - Edição 275

Fonte: Templo Cultural Delfos - Elfi Kürten Fenske - Ano VII, 2017
Disponível em: http://www.elfikurten.com.br/2016/07/bidu-sayao-entrevista.html
Acesso em: 18/01/2017.

Bidu Sayão e Heitor Villa-Lobos

PERSONALIDADE
Uma das principais cantoras líricas brasileiras estava internada havia 34 dias, no Penn Bay Medical Center

Bidu Sayão morre de pneumonia nos EUA
MARCELO DIEGO 
de Nova York 

A cantora lírica brasileira Bidu Sayão, 94, morreu ontem em função de problemas decorrentes de uma pneumonia, no Penn Bay Medical Center, no Estado de Maine (EUA). Sayão estava internada havia 34 dias e enfrentava uma série de problemas renais e respiratórios, além de uma infecção bucal.
Segundo o boletim médico, Sayão morreu às 10h30 (horário de Brasília). A cantora morava nos EUA havia mais de 50 anos. Segundo sua guardiã no país, Reisel Handy, apesar dos problemas de saúde, Sayão vinha conversando com os médicos e passava parte do tempo razoavelmente consciente.
A situação da cantora começou a piorar e a preocupar os médicos no início desta semana. Ela já não aceitava mais a alimentação e sobrevivia graças a medicamentos e soros ministrados pelos médicos. Ela passou os últimos dias sedada.
Ontem, ela teria sido submetida a uma transfusão de sangue, sem sucesso. Assim que chegou ao hospital, a artista fez um pedido expresso à sua guardiã para que seu corpo fosse cremado e as cinzas fossem jogadas na baía de Lincolnville, cidade onde ela residia.
O consulado brasileiro em Nova York afirmou que o pedido de Sayão já foi transmitido às autoridades brasileiras e que, diante disso, não haverá traslado do corpo.
Ainda não há data marcada para a cremação -o desejo inicial era que acontecesse hoje, em cerimônia reservada para amigos da brasileira. Segundo a guardiã, não havia nenhum familiar de Sayão com ela no momento da morte. Ela disse que um sobrinho da artista, que mora no Rio de Janeiro, deveria seguir para os EUA para cuidar de detalhes burocráticos.
O hospital teria tentado entrar em contato com familiares, mas sem conseguir falar com ninguém.
Sayão morava nos EUA desde o final dos anos 30. Aclamada no país, ela integrou a Orquestra Filarmônica de Nova York e o corpo do Metropolitan Opera House, nas décadas de 40 e 50, chegando a se apresentar na Casa Branca.
Ela não era casada, morava com sua guardiã. Ela não atuava mais, mas seus trabalhos continuam em alta no país. Há cerca de três anos, todas as suas obras foram lançadas remasterizadas em uma coleção clássica nos EUA. O consulado brasileiro em NY estuda a realização de um evento cultural para homenagear Bidu Sayão. A decisão pode acontecer nos próximos dias.

Fonte: Folha de São Paulo, 13/03/1999. 
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq13039931.htm
Acesso em: 18/01/2017.

Prof. Nelson de Paula Pereira
Historiador
contato@nelsondepaula.com
www.nelsondepaula.com

domingo, 8 de janeiro de 2017

REV. ASHBEL GREEN SIMONTON CHEGOU AO BRASIL SOLTEIRO

Rev. Ashbel Green Simonton (1833-1867)

Assinatura do Rev. Ashbel Green Simonton
Você sabia que o Missionário Estadunidense Rev. Ashbel Green Simonton (1833-1867), chegou ao Rio de Janeiro-Brasil, no dia 12/08/1859, com 27 anos de idade. Foi Licenciado pelo Presbitério de Carlyle, em 14/04/1858 e Ordenado Ministro da Palavra e dos Sacramentos em 14/04/1859, pelo Presbitério de Carlyle. Ou seja, chegou ao Brasil com pouco mais de três meses de ordenado. Chegou sozinho. ERA SOLTEIRO. Só veio a se casar em 19/03/1863 com Helen Murdoch (1834-1864) nos EUA.

Helen Murdoch (1834-1864)
Organizou a primeira Igreja Presbiteriana no Brasil em 12/01/1862.

Campo de Santana, 49 - onde em 12/01/1862 foi organizada a
Primeira Igreja Presbiteriana do Brasil

Sua primeira e única filha nasceu no Rio de Janeiro em 19/06/1864 e recebeu o nome da mãe Helen Murdoch Simonton (1864-1952). Sua mãe faleceu por complicações do parto em 28/06/1964, nove dias depois do nascimento da filha e foi sepultada no English Cemetery of Rio de Janeiro. O Rev. Ashbel Green Simonton faleceu vítima de febre amarela, em 09/12/1867, em São Paulo e está sepultado no Cemitério dos Protestantes.

Lápide no Cemitério dos Protestantes em São Paulo do Rev. Ashbel Green Simonton
Registro do Óbito do Rev. Ashbel Green Simonton

Rev. Ashbel Green Simonton e sua filha Helen Murdoch Simonton, criança (1864-1952)
Helen Murdoch Simonton (mais jovem)

Helen, a filha, depois da morte da mãe ficou pouco tempo no Brasil e depois foi levada para Baltimore, EUA, onde foi criada pela família da mãe. Morreu aos 88 anos de idade solteira e sem filhos e foi membro da First Presbyterian Church of Baltimore (igreja que sua mãe e a família de sua mãe eram membros) até a sua morte. Helen (a filha) faleceu em 07/01/1952 e está sepultada no Cemitério de Greenmount em Baltimore. Esquecida pela Igreja Presbiteriana do Brasil, da qual o seu pai foi o fundador.

Lápide do túmulo de Helen Murdoch Simonton,
no Cemitério de Greenmount, Baltimore, Maryland, EUA

Prof. Nelson de Paula Pereira
Historiador
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www.nelsondepaula.com

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

A REFORMA QUE ABALOU O MUNDO

Filha do Pastor Presbiteriano, Rev. Uriel de Almeida Leitão e de Mariana. Miriam Azevedo de Almeida Leitão (Caratinga, 7 de abril de 1953) é uma jornalista e apresentadora de televisão brasileira. Nascida em Caratinga, Minas Gerais. Formada na Universidade de Brasília, exerce a profissão há 40 anos. Iniciou sua carreira em Vitória, estado do Espírito Santo, tendo atuado em diversos órgãos de comunicação, seja em jornal, rádio e televisão, tais como Gazeta Mercantil, Jornal do Brasil, Veja, O Estado de S. Paulo, O Globo, Rádio CBN, Globo News e Rede Globo. Foi repórter de assuntos diplomáticos da Gazeta Mercantil e editora de economia do Jornal do Brasil.

Miriam Leitão escreve sobre os 500 anos da Reforma Protestante no jornal O Globo 
POR ANCELMO GOIS 01/01/2017 09:30

A reforma que abalou o mundo

Em 2017, completam-se 500 anos desde que o alemão Martinho Lutero (1483-1546) desencadeou uma revolução religiosa. Aqui, a coleguinha Miriam Leitão, filha de um pastor presbiteriano, explica a importância dessa história:

“Como em toda revolução, o ato inicial da Reforma Protestante foi feito sem que o padre e professor Martinho Lutero tivesse a noção da dimensão das transformações das quais aquele momento seria o marco inaugural. Ele queria o debate. E, por isso, afixou suas 95 teses na porta da Igreja de Wittenberg, num texto em que convidava quem não pudesse estar presente a apresentar suas ideias por escrito. A Igreja Católica passara a conceder o perdão mediante contribuições financeiras. Lutero considerava que isso era venda do perdão, o qual só poderia ser concedido por Deus diante do arrependimento e da fé. Eram curtas, as teses de Lutero, mas profundas. Como a de número 76: ‘As indulgências papais não podem anular sequer o menor dos pecados veniais.’ Foi o começo do fim de uma era.

Martin Luther (1483-1546)

Em 2017, o ato de Lutero faz 500 anos. A sucessão dos eventos foi avassaladora. Ele contestava o poder do Papa quando o mundo queria discutir a separação entre a Igreja e o Estado, e os países exigiam autonomia nacional. Lutero combatia a ideia de que só os sacerdotes podiam interpretar o texto sagrado e, por isso, traduziu a Bíblia para disseminá-la. Com a invenção do tipo móvel por Johannes Gutenberg, estava aberta a possibilidade de impressão em grande escala. Para que as ideias avançassem pela Europa, era preciso que houvesse mais leitores, e isso alavancou os movimentos de alfabetização dos fiéis. O mundo foi mudando. A própria Igreja Católica passou por mudanças a partir dali. Desafiada, ela encontrou o caminho de se fortalecer na Contrarreforma.

Apesar de ter nascido de uma discussão teológica e doutrinária, a Reforma é, sobretudo, uma efeméride laica porque representou valores universais que marcaram o fim da Idade Média e prenunciaram o Iluminismo.

Com meu pai, conversava ainda menina sobre a Reforma, mas, apesar de ser um tempo de maior distância entre as religiões, ele não a apresentava como uma ideologia anticatólica, mas como um momento de avanço do mundo das ideias. Afinal, para os protestantes, Lutero não é santo. Foi apenas um homem que contestou o poder vigente e, naquele momento, ajudou a abrir as janelas para uma nova forma de pensar.

Rev. Uriel de Almeida Leitão (1915-1999)

Por ter tido educação protestante, nunca achei que 31 de outubro é o dia das bruxas. Sempre foi o dia em que Lutero, em 1517, começou uma revolução”.

Fonte: Jornal O Globo, 01/01/2017.

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