Pastoral da Diretoria da Assembléia Geral - 31/7/2011
Estamos completando mais um ano como Igreja Presbiteriana Independente do Brasil. São decorridos 108 anos desde aquela memorável reunião que marcou o início desta jornada.
Estas ocasiões sempre são oportunas para algumas reflexões, assim como na história do povo de Israel as festas eram não apenas uma celebração festiva, mas também tempo de reavivar a memória e renovar as esperanças. A celebração da Páscoa, por exemplo, era a oportunidade para reviverem a história do êxodo, atualizando seu significado e reafirmando a esperança no Deus Libertador. Gamaliel, o grande mestre judaico, referindo-se à Páscoa, exortava para que cada geração e cada pessoa se considerassem como tendo sido ela própria liberta do Egito. Era uma reatualização do evento histórico.
Assim também, ao celebrarmos este “31 de Julho”, devemos fazê-lo como se cada um de nós tivesse vivido aquele momento histórico, com suas angústias e esperanças. Importa, pois, retomar alguns fatos daquele momento que ainda hoje representam desafios para nós.
Primeiro - A IPI do Brasil surgiu dentro do empenho pela evangelização deste país. Estava no coração daqueles pioneiros a necessidade da igreja brasileira assumir a responsabilidade pela evangelização. Decorridos tantos anos, nos perguntamos se existe tarefa mais urgente do que anunciar o evangelho a este país através de todos os meios, recursos e a todas as pessoas? Há uma grande oportunidade para proclamação do evangelho neste país. Os campos estão brancos para a ceifa. As portas estão abertas. Há receptividade. As pessoas estão sedentas e abertas. O que nos impede?
Segundo - A preocupação pela formação teológica de qualidade e adequada à realidade brasileira. Uma frase de Eduardo Carlos Pereira expressou bem essa preocupação: “A educação dos filhos da igreja pela igreja e para a igreja”. Era o cuidado que a igreja deveria ter na formação cristã e teológica dos seus filhos e candidatos ao ministério, devendo esta formação nunca perder de vista o horizonte da igreja. Esta preocupação ainda se faz atual na medida em que a igreja deve investir cuidadosa e atentamente na formação de seus quadros, para que sirvam à igreja e atendam suas necessidades, e não usem a igreja como trampolim para outros projetos pessoais.
Terceiro - A luta pela autonomia da igreja brasileira. Esta luta, por um lado, representava a maturidade da liderança nacional capaz gerir os destinos da nascente igreja, mas, por outro, era o duro desafio de fazer face às suas necessidades, vivendo sem a expectativa fácil de recursos externos. Esta responsabilidade gerou e deve gerar ainda o senso ou a certeza que Deus mesmo é o Senhor da obra e dos recursos, e que o seu trabalho não é determinado fundamentalmente pela disponibilidade de recursos financeiros, mas pela obediência. Realizamos o trabalho não porque dispomos de recursos financeiros, mas porque, além de ser importante, é uma questão de obediência. Se os recursos financeiros determinam nossas decisões, significa que nossa obediência é condicionada a Mamom e não ao Senhor da Igreja. Deus depende de pessoas obedientes para a realização dos seus planos. Os recursos Ele sempre provê.
Quarto - No debate sobre a compatibilidade entre fé cristã e as práticas maçônicas estava a preocupação com o caráter exclusivo da lealdade a Cristo, bem como a recusa a quaisquer concessões doutrinárias, tendo em vista possíveis benefícios advindos da filiação à Maçonaria. A Maçonaria defendera, é verdade, a liberdade religiosa e contribuíra para a proclamação da República, culminando com a separação entre igreja e estado. Essas conquistas, importantes sem dúvida para o protestantismo, não poderiam levar pastores e presbíteros a aderirem à Maçonaria, fazendo concessões doutrinárias, como de fato ocorreu. Os pastores e presbíteros que se levantaram contra essa atitude não estavam combatendo a Maçonaria, mas a sua incompatibilidade com a fé cristã e o caráter inegociável de algumas doutrinas.
A história tem comprovado a pertinência daquela decisão. Todavia, devemos nos perguntar: Quais as seduções que a igreja sofre hoje? Quais as pressões da cultura que se apresentam hoje como inofensivas ou normais, mas que comprometem nossa lealdade absoluta a Jesus Cristo?
Estas e outras questões devem fazer parte das nossas celebrações neste “31 de Julho”. Somos herdeiros de uma história de luta, de sacrifícios, de sonhos e de propósitos de servir ao Senhor com integridade e coerência. Que igreja vamos deixar para a geração que nos sucederá? Que exemplos de amor e sacrifício serão escritos com nossa vida? Que modelos de fidelidade ao evangelho deixaremos para nossos filhos?
Tradicionalmente, temos uma semana de oração antecedendo às celebrações. O Estandarte (edição de unho) publicou o Caderno de Oração com os temas para cada dia. A participação de todas as igrejas, além do benefício próprio da oração, fortalece nosso senso de identidade. Queremos, contudo, desafiar a igreja a orarmos não apenas uma semana, mas iniciar uma jornada de oração durante todo o semestre. Serão enfatizados em cada semestre da presente gestão assuntos básicos da vida cristã, tais como o estudo da Palavra, o anúncio, a celebração, a generosidade, o acolhimento, o serviço, etc. Todavia, nenhum tema é tão prioritário e urgente quanto a oração. Retornaremos a este assunto brevemente.
Partilhando do mesmo empenho do apóstolo Paulo, coloquemo-nos de joelhos para discernir a vontade de Deus e, com ousadia, cumprir nossa vocação, conforme expresso na sua carta aos Efésios: “Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai, de quem toma o nome toda família, tanto no céu como sobre a terra, para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior; e, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor, a fim de poderdes compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus. Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém!” (Ef 3.14-21)
Enviada por Diretoria