Perseverar até o fim
“... e por aumentar-se a iniquidade, o amor
da maioria se esfriará.” Mateus 24. 12
O
texto em destaque faz parte do Sermão profético de Jesus (Mateus 24). Em
algumas versões o versículo aparece com a seguinte interpretação: “E, por se multiplicar a iniquidade, o amor
se esfriará de quase todos.” (RA); “E,
por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos se esfriará.” (RC); “A maldade vai se espalhar tanto, que o amor
de muitos esfriará.” (NTLH).
Esse
texto é o segundo mais longo dos 6 discursos de Jesus. Também conhecido como “Discurso Escatológico de Cristo” ou “Discurso sobre as últimas coisas”. A
mensagem profética não é apenas para eventos próximos, mas àqueles futuros. A
queda de Jerusalém, ocorrida no ano 70 d.C é um exemplo.
A
ênfase principal do texto é que devemos estar sempre alertas, ativos e fiéis no
serviço de Jesus até o dia do seu retono. Dia esse que ninguém sabe.
Jesus
destaca as figuras dos falsos profetas (v. 5). “Eu sou o Cristo...” esses desencaminharão a muitos e os que
persistirem em ser desencaminhados mostram que jamais pertenceram ao verdadeiro
rebanho de Cristo. Não foram predestinados.
Sobre
“...guerra e rumores de guerras” (v.
6), Jesus fez menção, pois na ocasião, o Império Romano estava no período da Pax Romana (28 a.C a 180 d.C) abalada
décadas depois com a fragmentação do Império. Entretanto, tal instabilidade não
pode ser vista como indicação da volta imediata de Jesus Cristo. Ao longo do
tempo a Profecia alcança contínuo cumprimento quando o texto bíblico, no
versículo 7, diz: “...nação se levantará
contra nação, e reino contra reino” e isso temos visto ao longo dos
séculos. Mas tais guerras não podem ser usadas como “fixadoras de datas”, pois produz “sinais errados”. O próprio Cristo disse: “Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus,
nem o Filho, senão o Pai.” (v. 36).
“Fomes e terremotos...” (v. 7), esses
são outros eventos preditos. No período de 60 a 80 d.C a fome, a pestilência,
os incêndios, os vulcões e os terremotos assolaram todo vasto Império. A
erupção do Vesúvio em 70 d.C destruiu Pompéia. Muitos séculos depois vemos
alguns fenômenos da natureza irrompendo no mundo: os terremotos em Lisboa
(1755); na Calábria (1783); Nápoles (1857), que juntos ceifaram mais de 100 mil
pessoas. Outros numa era mais recente: Charleston - EUA (1886); Assam - Índia
(1897); Califórnia (1906); Messina – Itália (1908); Avezzano – Itália (1915);
Turquia (1939); Kansu – China (1920); Japão (1923 e 2011); Chile (1939, 1960 e
2010); Peru (1970); e muitos outros. “Mas
ainda não é o fim”. (v. 6).
O
ódio pelos cristãos será reiniciado (v. 9). O egoísmo celebrará triunfos, um
após o outro. É tempo de perseverar.
“E, por se multiplicar a iniquidade, o amor
se esfriará de quase todos.” (v. 12). Iniquidade aqui significa
desregramento e não a imoralidade. Tal tipo de iniquidade destrói a confiança
mútua entre os crentes, e a condição geral da maldade, prevalecente em qualquer
sociedade, tende então por esfriar o fervor do amor fraternal que de outra
maneira continuaria existindo.
“O amor esfriará”,do verbo soprar a fim
de esfriar, arrefecer. Palavra usada, também, para indicar a extinção de
silêncio. Os sopros dos indivíduos apagam as chamas do amor, os sopros da
apostasia, da iniquidade...esfriam as brasas..deixam cinzas...
Não
é apenas a perda do amor de “alguns” crentes uns pelos outros, mas de “muitos”,
no seio da maioria, entre “quase todos” conforme a tradução.
O
amor da fraternidade, das coisas espirituais, arrefece, e então passa a governar
a suspeita e a desconfiança.
No
período de perseguição a tendência é que todos se tornem egoístas,
esquecendo-se uns dos outros, cada qual se importando consigo mesmo restando
apenas o “amor-próprio”. Aqui entra a responsabilidade de cada cristão, como
guardiões de nossos irmãos. Eles fazem parte da nossa responsabilidade e o
serviço aos nossos semelhantes é também o serviço prestado a Deus.
O
texto profético nos dá uma instrução objetiva: “Aquele,porém, que perseverar até o fim, esse será salvo.” (v. 13).
Os fiéis perseverarão e deverão perseverar, por serem fiéis. “E será pregado este evangelho do reino por
todo o mundo, para testemunho a todas as nações...” (v. 14). As palavras
proféticas de Jesus se aplicam a um período muito mais além do que a destruição
de Jerusalém. A profecia não proclama a aceitação de toda a humanidade da
mensagem de Cristo, mas a sua divulgação por todo o mundo.
“... Então,virá o fim.” (v. 14). Não se
trata do fim de Jerusalém, mas o fim da era atual. O fim virá por conta da
segunda vinda de Jesus.
Não
é a largada que coroa a corrida do cristão, mas a chegada. E, até a chegada, é
preciso perseverar...permanecer firme!
Não
deixemos que o amor ao próximo se esfrie. E aqui o próximo são todos. Não
importa quem seja. Deixemos as diferenças de lado. Não se deixe levar pela
palavra torpe, “mal-dita” por alguém sobre outrem. Você viu e ouviu? Ou você
ouviu dizer? Você experimentou, você sofreu “na pele”? Só podemos acreditar
naquilo que vimos e ouvimos diretamente e não o que o outro viu e ouviu. Isso é
fofoca! É pecado! E seremos cobrados diante de Deus naquele grande dia.
Persevere no amor, na verdade. Uma palavra mentirosa, caluniadora tem o poder
de destruição muito grande...é desastrosa...leva a morte...Meça as
consequencias antes de “passar a diante” uma história que você “ouviu dizer”. O
que você viu, é fato. O que ouviu, é só boato. Se você não ouviu com seus
próprios ouvidos, ou não viu com seus próprios olhos. Não deixe sua mente
pequena inventar coisas e sua boca espalhar.
A palavra de Deus
é bem clara ao tratar da calúnia: 2ª Tm 3. 1-3: “Sabe, porém, isto: nos
últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas...
desafeiçoados... caluniadores...”; Tt 3. 2: “Aconselhe que não falem mal de
ninguém, mas que sejam calmos e pacíficos e tratem todos com educação.”; e Sl
50. 20: “Estão sempre acusando os seus irmãos e espalhando calúnias a respeito
deles.” Da mentira: Sl 34. 13: “Então procurem não dizer coisas más e
não contem mentiras.”; Sl 52. 3: “Amas o mal antes que o bem; preferes mentir a
falar retamente.”; Pv 14. 5: “A testemunha verdadeira não mente, mas a falsa se
desboca em mentiras.”; João 8. 44: “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e
quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais
se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira,
fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.”; Ef 4. 25:
“Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque
somos membros uns dos outros.”; e, 1ª Pe 3. 10: “Como dizem as Escrituras
Sagradas: “Quem quiser gozar a vida e ter dias felizes não fale coisas más e
não conte mentiras.” Sobre difamar: 2ª Tm 3. 1-5 “Nos últimos dias,
sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos,
jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos,
irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si,
cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos
prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o
poder. Foge também destes.”; Tg 4. 11: “Meus irmãos, não falem mal uns dos
outros.”; 1ª Pe 2. 1: “Portanto, abandonem tudo o que é mau, toda mentira,
fingimento, inveja e críticas injustas.”; Sl 101. 5: “Destruirei aqueles que
falam mal dos outros pelas costas...”; e, Pv 16. 28: “O homem... difamador
separa os maiores amigos.” E por fim, sobre a fofoca: Lv 19. 16: “Não
andarás como mexeriqueiro entre o teu povo teu próximo. Eu sou o SENHOR.”; Pv
11. 13: “O mexeriqueiro descobre o segredo, mas o fiel de espírito o encobre.”;
Pv 20. 19: “O mexeriqueiro revela o segredo; portanto, não te metas com quem
muito abre os lábios.”; 1ª Tm 6. 20: “E tu... evitando os falatórios
inúteis...”; 2ª Tm 2. 16: “Evita, igualmente, os falatórios inúteis e profanos,
pois os que deles usam passarão a impiedade ainda maior...”; e, Tg 1. 26:
“Alguém está pensando que é religioso? Se não souber controlar a língua, a sua
religião não vale nada, e ele está enganando a si mesmo.”
Amemo-nos
uns aos outros como Cristo nos ama. Perseveremos firmes em oração e em
santidade.
Em
oração,
Diác. Nelson de Paula Pereira +
Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro
nelsondepaula@catedralrio.org.br