Quando chegou de ambulância no Palácio do Catete por volta das 8h20m, o médico Rodolpho Perissé, 27 anos, de plantão no serviço externo do Hospital Souza Aguiar, não fazia a mínima idéia de quem precisava dos seus cuidados. Imaginou tratar-se de alguma pessoa das vizinhanças, vítima de um acidente.
Acompanhado por um enfermeiro, Perissé foi levado para o segundo andar. E ali, ao entrar no primeiro quarto do corredor à esquerda, deparou-se com a cena que jamais esquecerá.
Metido em um pijama com listas azuis e brancas, ensangüentado na altura do coração, jazia o corpo do presidente Getúlio Vargas. A cabeça estava mais para o meio da cama de casal onde costumava dormir. O resto do corpo, mais inclinado para a esquerda. Um dos pés pendia da cama.
Havia três pessoas sentadas na cama: Alzirinha, sua filha,o marido Amaral Peixoto e o ministro Tancredo Neves, da Justiça.
A mulher de Getúlio, dona Darcy Vargas, desabara inconsolável numa poltrona próxima da cama. E numa cadeira ao pé da cama, o filho do presidente, Lutero, parecia em estado de choque. Ao seu lado, o ajudante-de-ordem Hélio Dornelles.
Perissé usou seu estetoscópio para verificar se o coração de Getúlio ainda batia. Não batia.
Levantou uma pálpebra, depois outra. Por fim, pingou éter nos olhos do presidente. Nenhum reflexo pupilar. O corpo ainda não esfriara.
Constatou marcas de pólvora nas mãos de Getúlio, indicando que ele as usara para aproximar o cano do revólver do seu mamilo esquerdo e puxar o gatilho. Ele atirou por cima da roupa.
– O que vão fazer com ele? – gemeu dona Darcy.
– O presidente Getúlio Vargas está morto – anunciou o médico.
Alzirinha teve a impressão de que o pai esboçara um sorriso quando ela irrompeu no quarto dele depois ter ouvido o barulho seco do disparo. No instante seguinte, o sorriso sumiu.
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Hoje faz 57 anos que Getúlio Vargas saiu da vida para entrar na História.
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