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sexta-feira, 2 de maio de 2008

1º DE MAIO: UMA CONQUISTA DE SANGUE!


A Cidade do Sol
Giovanni Domenico Campanella ou Tommaso Campanela (1568-1639), um frade italiano, no século XVII, escreveu um livro chamado “A Cidade do Sol”, nesse livro ele descreve que os solares – habitantes da Cidade do Sol – trabalhavam apenas oito horas diárias. A publicação do livro custou-lhe a vida. Foi torturado pelo Tribunal da Santa Inquisição e mantido preso por 27 anos. Isso porque na Idade Média, os camponeses trabalhavam 17 horas.

Ao longo da história da humanidade, as questões do trabalho duração e benefícios, foram motivos de grandes conflitos em diversas sociedades do mundo.
Neste pequeno artigo iremos trabalhar algumas questões no que se refere ao 1º de maio.

O Século XVIII é marcado por grandes transformações tecnológicas que vão mexer não só com questões de trabalho, mas transformações sociais e econômicas. Estamos falando da Revolução Industrial ocorrida, a princípio, na Inglaterra.
As condições de trabalho, com a introdução das máquinas a vapor, vão exigir cada vez mais um ritmo de trabalho acelerado e desumano. Já na década de 1750 operários da Fábrica Tyldesley, na Cidade de Manchester (Inglaterra), trabalhavam a uma temperatura de 29ºC, num ambiente úmido, com janelas fechadas, numa carga horária de 14h por dia e o pior: não podiam parar para beber água, pois perderiam tempo de trabalho.

Burton House (on the right) and mills in the background, c.1860s
Diante dessas condições de trabalho, muitas organizações, campanhas, greves e mobilizações vão surgindo em alguns países. A Cidade de Chicago – EUA, vai ser palco de um grande acontecimento. Trabalhadores de tendências políticas socialistas, anarquistas e sócial-democratas vão mobilizar os operários a realizarem uma grande greve exigindo maiores salários e redução da jornada de trabalho. No dia 1º de maio de 1886, inicia-se a greve, a princípio não houve repressão policial, entretanto, nos dias que se sucederam, os operários foram duramente reprimidos. O resultado foi: muitos mortos, muito sangue, feridos e presos que, depois de um julgamento, que alarmou o Mundo, foram sentenciados à MORTE POR ENFORCAMENTO! Passados esses acontecimentos, ALGUNS Estados norte-americanos estabeleceram jornadas de trabalho de 10h ou raramente 8h. Entre 1888 e 1890 muitas manifestações de protestos, exigindo redução da jornada de trabalho, ocorreram. O 1º de maio passou a ser comemorado por iniciativa de sindicatos, partidos e associações.

Le 11 novembre 1887, à Chicago, dans la cour de la prison, exécution par pendaison des anarchistes August Spies, Albert Parsons, Adolph Fischer, George Engel.
Em 20 de junho de 1889, a 2ª Internacional Socialista esteve reunida em Paris, onde muitas decisões foram tomadas, dentre elas uma proposta de Raymond Lavigne: convocar anualmente uma manifestação com o objetivo de lutar pelas 8h de trabalho diário. A data escolhida para essa manifestação anual foi o 1º de maio, em homenagem ao acontecimento de Chicago em 1886. Mesmo assim muitas mortes e muito sangue foram derramados em diversas Cidades do norte da França. Em 1891, depois da Internacional Socialista em Bruxelas, foi proclamado o 1º de maio como Dia Internacional de Reivindicações de Condições Laborais. Somente em 23 de abril de 1919 o Senado Francês estabelece a jornada de 8h de trabalho e proclama o 1º de maio feriado nacional. Em seguida, muitos países seguiram o exemplo, como a Rússia em 1920.

As jornadas de trabalho chegavam a ser de até 17h diárias, sem descanso semanal, férias e aposentadoria. Tudo isso até o Séc. XIX.

Em nossa terra, a primeira comemoração do 1º de maio data de 1895 na Cidade de Santos, por iniciativa do Centro Socialista. A consolidação da data, como o DIA DO TRABALAHDOR, foi instituída pelo Decreto Presidencial em 1925, pelo Presidente Arthur Bernardes, um dia de feriado nacional que tinham, dentro dos eventos para comemorar a data, comícios, desfiles, passeatas, apresentação de peças teatrais que se estendiam por todo o Brasil.

Com Getúlio Vargas, o 1º de maio passou a ter um sentido diferente, porém importante. O 1º de maio – considerado Dia do Trabalhador – passou a ser chamado de Dia do Trabalho, face à ideologia Getulista (não interessada na desconstrução do capital, mas sua colaboração com o trabalho). Como nossa finalidade não é entrar num debate ideológico, prossigamos. O Dia do Trabalhador era marcado por piquetes e passeatas. O Dia do Trabalho passou a ser comemorado apenas com festas populares e desfiles.

O período Getulista representa, apesar de muitos discordarem, um período onde o trabalhador passa a ter muitos direitos, dentre eles foi instituída a maior legislação trabalhista do Brasil, a Consolidação das Leis Trabalhistas –CLT, assinada no dia 1º de maio de 1943, no Estádio São Januário, no Rio de Janeiro. Era sempre no 1º de maio que se anunciavam as principais leis e iniciativas que atendiam às reivindicações dos trabalhadores; o reajuste anual do salário mínimo.

O Presidente da República Getúlio Vargas discursa no Estádio São Januário por ocasião das festividades do Dia do Trabalho, em 1951.

Ao ser instaurado o AI-5 (1968), sindicatos e organizações de trabalhadores foram perseguidos. Muitas lideranças trabalhistas foram presas e perderam seus direitos políticos. Somente a partir da década de 1980 as coisas vão mudar.

O 1º de maio ou o Dia do Trabalho/Trabalhador é comemorado em datas diferentes em alguns países, por exemplo, na Austrália a data varia de acordo com a região: 4 de março na Austrália Ocidental, 11 de março no Estado de Vitória, 6 de maio em Queensland e no Território do Norte, 7 de outubro em Canberra, Nova Gales do Sul (Sydney) e na Austrália Meridional; nos EUA é celebrado o Labor Day na 1ª segunda-feira de setembro.

Precisamos lembrar que as conquistas dos trabalhadores que nos antecederam, foram conquistas difíceis ocasionando mortes e derramamento de sangue, em alguns momentos. Suas lutas eram nada mais nada menos que exigir algo justo: salário, garantias, benefícios, descanso, saúde, moradia, educação e outros. Jesus certa feita disse à comunidade pobre de Mateus: “Todo trabalhador é digno de seu sustento”.

Nesse 1º de maio oremos por nosso país, por sua liderança, para que legisle em prol dos trabalhadores, dos pobres. Que haja uma melhor distribuição de renda em nosso pais. Que as injustiças, as desigualdades sociais diminuam. Não só aqui em nossa terra, mas em todo o Mundo. Façamos a diferença e não nos associemos a Governantes injustos e corruptos. Nós podemos fazer a diferença.

Prof. Nelson de Paula Pereira
Historiador
www.nelsondepaula.com