(Jesus curando o cego. 1570. Por El Greco, atualmente na Gemäldegalerie Alte Meister, em Dresden, na Alemanha)
Leituras introdutórias:
1º Sm 16,6-7 e 10-13 / Sl. 22(ou 23) / Ef 5. 8-14 / Jo 9,1-41 ou
9,1.6-9.13-17.34-38
Com o decorrer
da Quaresma fica claro que o cristão batizado tem um compromisso com seu
Batismo de empenhar-se no desenvolvimento da fraternidade entre as pessoas, na
sociedade e na comunidade cristã. Trata-se de verdadeiro serviço.
A primeira
leitura apresenta um rei que não soube usar o seu posto para servir às
necessidades do povo. Desgostou ao povo e a Deus. Foi providenciada a sua substituição
por alguém que se mostrasse mais sensível aos necessitados. Esse alguém foi
Davi, último de oito irmãos, acostumado ao serviço de cuidar do rebanho. Porque
Deus não considera as aparências, mas o coração das pessoas. Deus queria alguém
que fizesse de seu posto um compromisso com os mais necessitados.
O episódio do
cego é revelador da profunda lição que Jesus pretendia desenvolver.
Normalmente, costumamos jogar para cima dos outros as lições a aprender. Mas,
na verdade, a lição é para nós batizados. O pior cego é aquele que não quer
ver. Tolo é o que se faz de cego para não ver o que precisa ser visto. Cego é o
cristão (a comunidade) que perdeu de vista seu compromisso batismal de
servir à construção da fraternidade. Cego é o cristão (a
comunidade) que, em seu relacionamento com as demais pessoas, não leva em
consideração que somos irmãos e irmãs. Cego é o cristão (a comunidade) que nada
vê, a não ser os seus próprios interesses egoístas; que usa as pessoas para sua
própria ambição; está cego, sem a luz do amor.
A Quaresma quer abrir os olhos
desses cristãos e comunidades. Nesta Quaresma, é necessário voltar-nos para a luz
que é
Cristo
("Quem me segue não anda nas trevas"), para que a luz de Cristo
ilumine a caridade escurecida nos corações; para redescobrirmos que a caridade é serviço. O mundo
ainda não descobriu Cristo, não tanto pela cegueira dele, mas pela nossa. Os
pobres não conseguem ainda ver Cristo, não porque eles estejam cegos, mas
porque nós não fazemos do serviço fraterno o testemunho luminoso da presença de
Cristo.
Quem tiver algum posto ou cargo de
autoridade precisa enxergar nele mais do que uma oportunidade de se beneficiar;
precisa enxergar a chance de melhor servir aos irmãos, a começar dos mais
pobres. O país começará a melhorar, quando melhor ficar a vida dos mais pobres.
Enquanto melhorar só para os que já têm, não está acontecendo a nova sociedade.
O cristão que abre os olhos para o projeto de fraternidade
do seu Batismo torna-se testemunho ativo do serviço fraterno.
O gesto concreto da Quaresma
precisa ser sinal bem claro que demonstre que o cristão está abrindo os olhos e
descobrindo novamente o significado de seu compromisso com a fraternidade, em
decorrência do seu Batismo.
Que Deus nos ajude e que nós
façamos a nossa parte.
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