(meditação da 3ª semana da Quaresma)
O Apóstolo Pedro , na sua espontaneidade, era como nós: achava que o perdão era artigo de quantidade; quando , na verdade, é questão de qualidade (Mt 18, 21-35). Porque o perdão deve ser dado sempre: "É assim que o meu Pai que está no céu fará com vocês, se cada um não perdoar de coração, a seu irmão." (Mt 18, 35). Sem a desculpa de que "ele não merece". Realmente ninguém merece, porque o perdão tem que ser dado.
"Ele me ofendeu. Portanto ele deve me pedir perdão." Também não é assim. Cristão de verdade, irmão mesmo é quem dá o primeiro passo para o perdão reconciliador, embora tenha sido o ofendido. Qualquer ato que não seja inspirado no amor é indigno da pessoa. "Sejam perfeitos como o Pai do céu é perfeito." (Mt 5, 21) O amor é uma experiência forte de Deus. A fragilidade do irmão pobre é o estímulo para a ação amorosa.
A condição para receber o perdão foi estipulada pelo próprio Jesus Cristo. Preto no branco, Jesus afirma - e nunca mudou de ideia - que, para receber o seu perdão e do Pai, é preciso, que, antes, os irmãos se perdoem mutuamente. Não há escapatória.
O amor do Pai pela humanidade nos provoca ao amor, como a águia que voa sobre o ninho para desafiar os filhotes a voar.
Toda humanidade deve confiar no perdão do Pai. O perdão do Pai é fruto da misericórdia. Então é importante confiar na misericórdia do Pai. Essa confiança é a base para receber o perdão. Nós não podemos cansar de pedir perdão, porque o Pai nunca se cansa de perdoar. Que esplêndida afirmação para alimentar a nossa confiança!
Certa vez, respondendo à consulta do Apóstolo Pedro sobre quantas vezes perdoar (Mt 18, 21-22), Jesus afirmou que a condição é perdoar sempre antes de pedir perdão.
Em seguida, Jesus continua o assunto com a parábola do servo cruel (Mt 11, 23-34). Primeiro destaca a força da palavra "compaixão" usada pelo patrão comovido. Na língua grega, compaixão é chegar até as entranhas. Entranhas é o útero materno, onde silenciosamente se constrói o ser humano. Portanto, o perdão deve brotar lá dentro, no lugar da geração da vida.
Terminada a parábola, Jesus é taxativo sobre a condição de receber o perdão: "[...] se cada um de vocês não perdoar de coração o seu irmão". Aqui o destaque é para o prefixo "per" da palavra perdão: significa intensidade, profundidade, portanto, "perdoar do fundo do coração".
Lucas registra outra oportunidade, quando tratava da misericórdia e da gratuidade: "[...] perdoem e serão perdoados [...]" (Lc 6, 37-38).
Notei que um estimado amigo, na hora do Pai Nosso, se calava neste trecho: "[...] perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido" [...]. Perguntei por que motivo, ele respondeu que não queria se comprometer com Deus, porque não perdoava aos seus ofensores. Expliquei-lhe que o Pai Nosso ou se ora e vive por inteiro ou não se ora.
Na verdade, o Pai Nosso expressa primeiro a própria relação de Jesus com Deus, o Pai. Depois acena para a nossa relação com o Pai como filhos e filhas. Por fim, Jesus se inclui no "nosso", porque Ele é o nosso irmão, afinal o Pai d'Ele é o mesmo que o nosso. Portanto, a nossa relação com Deus tem sua base em nosso relacionamento de irmãos.
"Sem o perdão, o mundo não existiria mais!"
Na verdade, dar o perdão é difícil. Não é para os fracos na fraternidade. Claro! É um ato que expressa o imenso amor do Pai por nós. Deverá ser também o ato de maior expressão do amor entre nós. Quem perdoa dá o testemunho de que seu coração está na linha do coração do Pai do amor.
Por fim, sem dúvida, só o ensinamento do perdão e sua prática pela humanidade justificaria a vinda de Jesus ao mundo.
(PEREIRA, Augusto César. Meditando a Palavra. São Paulo: Paulus, 2015, p. 98-100)
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