Pentecostés - Jean II Restout (1692-1768)
Domingo, os cristãos de todo o mundo celebraram o Domingo de
Pentecostes. O Pentecostes é o cumprimento da promessa de Jesus enquanto esteve
na terra após a sua ressurreição e antes da sua Ascensão. Jesus disse que o
Consolador, o Espírito Santo viria e nós não ficaríamos órfãos (João 14. 18).
Jesus recomendou que seus discípulos ficassem em Jerusalém para serem
revestidos de poder (Lucas 24. 49).
E realmente, 50 (cinquenta dias) após a ressurreição, no
Domingo de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar e sobre eles
desceu o Espírito Santo (Atos 2). Ali estavam reunidos partos, medos, elamitas
e os naturais da Mesopotâmia, Judeia, Capadócia, Ponto e Ásia, da Frígia, da
Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos
que lá residiam, tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios, além dos
Judeus e homens piedosos de Jerusalém. Cada um os ouvia falar na sua própria
língua. Não eram línguas estranhas como os pentecostalistas afirmam, pois a
Palavra de Deus é bem clara ao dizer: “...
Não são, porventura, galileus todos esses que aí estão falando? E como os
ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna?” (Vs. 7 e 8). Onde
o Espírito Santo habita, todos se entendem. Quando o Espírito Santo não está,
ninguém se entende. Cristo também nos contou que o
Espírito Santo dá testemunho de Jesus à comunidade cristã mas também ao mundo.
Nesse sentido, ele nos conduz à Verdade, guia-nos à Verdade, ensinando a
comunidade cristã a caminhar por suas próprias pernas após a Ascensão de Jesus,
a fim de que possa discernir como enxergar o Evangelho à luz de novos contextos
que experimentamos todo o dia. O Espírito Santo permite-nos dar testemunho de
Jesus em tempo e em fora de tempo, de acordo com as inúmeras situações, contextos
e adversidades que a vida terrena nos impõe.
Porém, a festa de Pentecostes precede o derramamento do
Espírito naquele dia especial de nascimento da Igreja. A tradição judaica
possuía uma festa, chamada Shavuot,
transliterada em grego como Pentecostes.
O termo Pentecostes é de origem grega, referindo-se a
“cinquenta” dias. Pentecostes ocorria 50 dias após a Páscoa (Levíticos 23.
15-21 / Deuteronômio 16. 9-12). Sua origem era a celebração de uma festa da
colheita celebrada pelos cananeus. Israel “tomou” por empréstimo a celebração
após terem se estabelecido na Palestina, mas com um significado diferente. Eram
celebradas sete semanas envolvidas na colheita dos cereais. Os escritos
bíblicos antigos se referiam a Pentecostes como uma “festa da colheita” ou “festa
da saga dos primeiros frutos” (Êxodo 23. 16), em memória da primeira colheita
do povo hebreu após haver chegado à Terra Prometida. Tempos depois foi-lhe
atribuída o nome Shavuot, ou “festa
das semanas” (Deuteronômio 16. 10). Na literatura judaica, pós-bíblica,
associou-se ao aniversário da revelação da lei no Monte Sinai (Êxodo 19). Na
diáspora, essa festividade perdeu o seu caráter agrícola passando-se a uma
festa do tempo da outorga da lei, a Torá.
Já o Pentecostes Cristão, é vinculado à descida do Espírito
Santo – a outorga da lei do Espírito.
Analisemos o texto Bíblico de Atos. No mesmo lugar (v. 1) –
provavelmente o Cenáculo, onde Jesus proferiu a promessa da vinda do Espírito
Santo e onde os Apóstolos se reuniam (Atos 1. 13). O Pentecostes se tornou
distintamente cristão em confronto ao Pentecostes Judaico.
1º A Igreja nasceu como primícias ou primeiros frutos da
humanidade, para Cristo. Pessoas de diversas nações passaram a se reunir no
seio da igreja.
2º A descida do Espírito Santo foi e é a garantia e o selo de
sua completa regeneração, glorificação e participação na natureza divina (II
Pedro 1. 4), porque o Espírito Santo é o agente de toda operação divina.
3º O Pentecostes Judaico corresponde ao dia da outorga da lei
do Monte Sinai. O Pentecostes Cristão é o começo de uma nova lei implantada nos
corações dos homens.
4º O princípio da nova vida, no Espírito Santo, marca o final
da escravidão, tal como no Monte Sinai, marcando a libertação do povo da
escravidão do Egito.
5º O Pentecostes também marca um dia de ação de graças, pois
finalmente será estabelecida uma ordem social completa e universal, que será a
grande característica dos séculos eternos.
6º O Pentecostes trouxe uma experiência unificadora, unindo
judeus e gentios, logo, uma só igreja (I Coríntios 12. 13), conferindo a
unidade espiritual (Efésios 4. 1). Os crentes estão unidos em fato e em ato.
A presença do Espírito Santo é a característica distintiva da
igreja.
John Gill (1697-1771), inglês, pastor, teólogo, intérprete e
comentarista bíblico, diz que: “... e
embora houvesse tantos deles, reunidos, mostraram-se muito unânimes e
pacíficos; não houve conflitos e nem contendas entre eles; todos se mantinham
no mesmo parecer mental e no mesmo juízo, impelidos pela fé e pela prática
comuns, gozando de um só coração e alma, cordialmente ligados por afeto uns aos
outros; e todos se encontravam no mesmo lugar...”
Outro teólogo, Matthew Henry (1622-1714), inglês, pastor e
comentarista bíblico, diz: “Desejamos que
o Espírito se derrame do alto sobre nós? Então estejamos todos de comum acordo,
sem importar a imensa variedade de nossos sentimentos e interesses, como, sem
dúvida, sucedia também entre aqueles primeiros discípulos, concordemos em
amar-nos uns aos outros; porque onde habitam os irmãos juntamente, em unidade,
ali o Senhor ordena a sua bênção.”
The Tower of Babel - Pieter Brueghel the Elder (1526/1530–1569)
E Babel... o que tem haver com Pentecostes?
Babel, no hebraico, significa “porta de Deus”. Era uma das
principais cidades em Sinear, Suméria, antiga Babilônia. O termo “Babel” é
explicado biblicamente como “Confusão” ou “Mistura”. Babel era capital do
Império babilônico, uma cidade-estado extremamente rica e poderosa. Era um
centro político, militar, cultural e econômico do mundo antigo. A Bíblia não
diz as dimensões da torre, mas existem duas fontes extra-canônicas que
mencionam a altura da torre.
A primeira registrada no Livro dos Jubileus que menciona a
altura da torre como sendo de 5433 cúbitos e 2 palmos (2484 metros de altura).
Tal afirmação seria considerada mítica para a maioria dos estudiosos, visto que
construtores em tais tempos antigos seriam considerados incapazes de construir
uma estrutura de quase 2,5 quilômetros de altura.
Outra fonte, também, extra-canônica é encontrada no Terceiro
Apocalipse de Baruch; menciona que a “torre da discórdia” alcançava uma altura
de 463 cúbitos (212 metros de altura). Isto seria mais alto do que qualquer
outra estrutura construída no mundo antigo, como a Pirâmide de Quéops em Gizé,
Egito e mais alta do que qualquer estrutura construída na história humana até a
construção da Torre Eiffel em 1889. Uma torre de tal altura no mundo antigo
teria sido tão incrível ao ponto de merecer a sua reputação e menção na Bíblia
e outros textos históricos.
A expressão “torre” é encontrada em Gênesis 11. 4. Há
hipóteses de que a torre foi construída com o intuito de ser um elevado sinal
demarcatório; ou simplesmente ostentação; prestígio para a cidade; ou
propósitos astrológicos, portanto um monumento as religião pagã.
Desde Adão só se falava uma única língua. Após o Dilúvio de
Noé, em Gênesis 11, inicia-se com o relato “A torre de Babel”. A grande
variedade de idiomas é explicitada pela mesma teologia com base no relato sobre
a Torre de Babel. Subitamente, por decreto e ato divinos, as pessoas começaram
a falar em diversas línguas não entendendo um ao outro (Gênesis 11. 7).
Não entendendo o que cada uma falava, Deus os dispersou dali
pela superfície da terra. (Gênesis 11. 8).
Em Babel as pessoas falaram em diversas línguas e não se
entendiam, no Pentecostes as pessoas falaram em vários idiomas e se entendiam,
pois onde há o Espírito Santo não há confusão de língua, de linguagem, de
entendimento. Em Babel as pessoas se dispersaram. No Pentecostes as pessoas se
uniram.
O que temos feito em nossos dias? Temos nos dispersado ou nos
unido? A Igreja de Pentecostes é a Igreja do perdão e da reconciliação. Isso
porque em Pentecostes, comemoramos a descida do Espírito entre nós, como
promessa de Jesus que, através de sua morte e ressurreição, reconciliou o mundo
inteiro. Pentecostes é para todos. Todos! E quando lembro-me da palavra
"todos", faço uma paráfrase do Arcebispo Desmond Tutu (da Igreja na
África do Sul e prêmio Nobel da Paz), que repetiu tal palavra diversas vezes ao
lembrar-nos que "Deus mandou Seu
filho para TODO aquele, TODO, TODO aquele que n'Ele creu"... A
linguagem de Cristo unifica. O Espírito Santo nos conduz.
O cenário mitológico de Babel é confuso... O ser humano,
orgulhoso e pretensioso, acha-se capaz de chegar a Deus, construindo uma torre
até Ele. A presunção humana esbarra-se na diversidade de línguas entre os
diferentes homens e mulheres, o que os obriga a desistir do feito. E quantas
vezes nós também não procuramos chegar a Deus por conta própria? Construímos um
relacionamento unilateral com o que achamos que é Deus e partimos na nossa
"confusão de Babel" para tentar chegar, sem sucesso, até Ele.
Em Pentecostes, porém, o efeito-Babel é eliminado por Deus.
Estavam lá a Bem-Aventurada Virgem Maria, os Santos Apóstolos e diversos outros
discípulos - de toda a parte do mundo. Ao contrário de Babel, eles não tinham a
mínima intenção de chegar, por conta própria, até Deus. Estavam é apreensivos
com a ascensão do Cristo. Suplicavam a Deus por auxílio. Ali, naquele momento,
Deus manifesta-se com sua face consoladora, trazendo-lhes uma só língua.
Quebra-se a maldição de Babel. Todos são um só povo de novo. Todos se entendem
plenamente. É a colheita de algo novo: a Igreja de Cristo, a Palavra feito
carne: aquele que veio para cumprir a Lei e libertar a todos do jugo do pecado.
Recebam o Espírito Santo. Os pecados daqueles que vocês
perdoarem, serão perdoados. Os pecados daqueles que vocês não perdoarem, não
serão perdoados. Espírito Santo, vem!
Em oração,
Diác. Nelson de Paula Pereira +
Membro da Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro
contato@nelsondepaula.com
www.nelsondepaula.com
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