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quarta-feira, 18 de maio de 2016

BABEL E O PENTECOSTES


Pentecostés - Jean II Restout (1692-1768)

Domingo, os cristãos de todo o mundo celebraram o Domingo de Pentecostes. O Pentecostes é o cumprimento da promessa de Jesus enquanto esteve na terra após a sua ressurreição e antes da sua Ascensão. Jesus disse que o Consolador, o Espírito Santo viria e nós não ficaríamos órfãos (João 14. 18). Jesus recomendou que seus discípulos ficassem em Jerusalém para serem revestidos de poder (Lucas 24. 49).

E realmente, 50 (cinquenta dias) após a ressurreição, no Domingo de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar e sobre eles desceu o Espírito Santo (Atos 2). Ali estavam reunidos partos, medos, elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judeia, Capadócia, Ponto e Ásia, da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos que lá residiam, tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios, além dos Judeus e homens piedosos de Jerusalém. Cada um os ouvia falar na sua própria língua. Não eram línguas estranhas como os pentecostalistas afirmam, pois a Palavra de Deus é bem clara ao dizer: “... Não são, porventura, galileus todos esses que aí estão falando? E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna?” (Vs. 7 e 8). Onde o Espírito Santo habita, todos se entendem. Quando o Espírito Santo não está, ninguém se entende. Cristo também nos contou que o Espírito Santo dá testemunho de Jesus à comunidade cristã mas também ao mundo. Nesse sentido, ele nos conduz à Verdade, guia-nos à Verdade, ensinando a comunidade cristã a caminhar por suas próprias pernas após a Ascensão de Jesus, a fim de que possa discernir como enxergar o Evangelho à luz de novos contextos que experimentamos todo o dia. O Espírito Santo permite-nos dar testemunho de Jesus em tempo e em fora de tempo, de acordo com as inúmeras situações, contextos e adversidades que a vida terrena nos impõe.

Porém, a festa de Pentecostes precede o derramamento do Espírito naquele dia especial de nascimento da Igreja. A tradição judaica possuía uma festa, chamada Shavuot, transliterada em grego como Pentecostes.

O termo Pentecostes é de origem grega, referindo-se a “cinquenta” dias. Pentecostes ocorria 50 dias após a Páscoa (Levíticos 23. 15-21 / Deuteronômio 16. 9-12). Sua origem era a celebração de uma festa da colheita celebrada pelos cananeus. Israel “tomou” por empréstimo a celebração após terem se estabelecido na Palestina, mas com um significado diferente. Eram celebradas sete semanas envolvidas na colheita dos cereais. Os escritos bíblicos antigos se referiam a Pentecostes como uma “festa da colheita” ou “festa da saga dos primeiros frutos” (Êxodo 23. 16), em memória da primeira colheita do povo hebreu após haver chegado à Terra Prometida. Tempos depois foi-lhe atribuída o nome Shavuot, ou “festa das semanas” (Deuteronômio 16. 10). Na literatura judaica, pós-bíblica, associou-se ao aniversário da revelação da lei no Monte Sinai (Êxodo 19). Na diáspora, essa festividade perdeu o seu caráter agrícola passando-se a uma festa do tempo da outorga da lei, a Torá.

Já o Pentecostes Cristão, é vinculado à descida do Espírito Santo – a outorga da lei do Espírito.

Analisemos o texto Bíblico de Atos. No mesmo lugar (v. 1) – provavelmente o Cenáculo, onde Jesus proferiu a promessa da vinda do Espírito Santo e onde os Apóstolos se reuniam (Atos 1. 13). O Pentecostes se tornou distintamente cristão em confronto ao Pentecostes Judaico.

1º A Igreja nasceu como primícias ou primeiros frutos da humanidade, para Cristo. Pessoas de diversas nações passaram a se reunir no seio da igreja.

2º A descida do Espírito Santo foi e é a garantia e o selo de sua completa regeneração, glorificação e participação na natureza divina (II Pedro 1. 4), porque o Espírito Santo é o agente de toda operação divina.

3º O Pentecostes Judaico corresponde ao dia da outorga da lei do Monte Sinai. O Pentecostes Cristão é o começo de uma nova lei implantada nos corações dos homens.

4º O princípio da nova vida, no Espírito Santo, marca o final da escravidão, tal como no Monte Sinai, marcando a libertação do povo da escravidão do Egito.

5º O Pentecostes também marca um dia de ação de graças, pois finalmente será estabelecida uma ordem social completa e universal, que será a grande característica dos séculos eternos.

6º O Pentecostes trouxe uma experiência unificadora, unindo judeus e gentios, logo, uma só igreja (I Coríntios 12. 13), conferindo a unidade espiritual (Efésios 4. 1). Os crentes estão unidos em fato e em ato.

A presença do Espírito Santo é a característica distintiva da igreja.

John Gill (1697-1771), inglês, pastor, teólogo, intérprete e comentarista bíblico, diz que: “... e embora houvesse tantos deles, reunidos, mostraram-se muito unânimes e pacíficos; não houve conflitos e nem contendas entre eles; todos se mantinham no mesmo parecer mental e no mesmo juízo, impelidos pela fé e pela prática comuns, gozando de um só coração e alma, cordialmente ligados por afeto uns aos outros; e todos se encontravam no mesmo lugar...”

Outro teólogo, Matthew Henry (1622-1714), inglês, pastor e comentarista bíblico, diz: “Desejamos que o Espírito se derrame do alto sobre nós? Então estejamos todos de comum acordo, sem importar a imensa variedade de nossos sentimentos e interesses, como, sem dúvida, sucedia também entre aqueles primeiros discípulos, concordemos em amar-nos uns aos outros; porque onde habitam os irmãos juntamente, em unidade, ali o Senhor ordena a sua bênção.”


The Tower of Babel - Pieter Brueghel the Elder (1526/1530–1569)

E Babel... o que tem haver com Pentecostes?

Babel, no hebraico, significa “porta de Deus”. Era uma das principais cidades em Sinear, Suméria, antiga Babilônia. O termo “Babel” é explicado biblicamente como “Confusão” ou “Mistura”. Babel era capital do Império babilônico, uma cidade-estado extremamente rica e poderosa. Era um centro político, militar, cultural e econômico do mundo antigo. A Bíblia não diz as dimensões da torre, mas existem duas fontes extra-canônicas que mencionam a altura da torre.

A primeira registrada no Livro dos Jubileus que menciona a altura da torre como sendo de 5433 cúbitos e 2 palmos (2484 metros de altura). Tal afirmação seria considerada mítica para a maioria dos estudiosos, visto que construtores em tais tempos antigos seriam considerados incapazes de construir uma estrutura de quase 2,5 quilômetros de altura.

Outra fonte, também, extra-canônica é encontrada no Terceiro Apocalipse de Baruch; menciona que a “torre da discórdia” alcançava uma altura de 463 cúbitos (212 metros de altura). Isto seria mais alto do que qualquer outra estrutura construída no mundo antigo, como a Pirâmide de Quéops em Gizé, Egito e mais alta do que qualquer estrutura construída na história humana até a construção da Torre Eiffel em 1889. Uma torre de tal altura no mundo antigo teria sido tão incrível ao ponto de merecer a sua reputação e menção na Bíblia e outros textos históricos.

A expressão “torre” é encontrada em Gênesis 11. 4. Há hipóteses de que a torre foi construída com o intuito de ser um elevado sinal demarcatório; ou simplesmente ostentação; prestígio para a cidade; ou propósitos astrológicos, portanto um monumento as religião pagã.

Desde Adão só se falava uma única língua. Após o Dilúvio de Noé, em Gênesis 11, inicia-se com o relato “A torre de Babel”. A grande variedade de idiomas é explicitada pela mesma teologia com base no relato sobre a Torre de Babel. Subitamente, por decreto e ato divinos, as pessoas começaram a falar em diversas línguas não entendendo um ao outro (Gênesis 11. 7).

Não entendendo o que cada uma falava, Deus os dispersou dali pela superfície da terra. (Gênesis 11. 8).
Em Babel as pessoas falaram em diversas línguas e não se entendiam, no Pentecostes as pessoas falaram em vários idiomas e se entendiam, pois onde há o Espírito Santo não há confusão de língua, de linguagem, de entendimento. Em Babel as pessoas se dispersaram. No Pentecostes as pessoas se uniram.

O que temos feito em nossos dias? Temos nos dispersado ou nos unido? A Igreja de Pentecostes é a Igreja do perdão e da reconciliação. Isso porque em Pentecostes, comemoramos a descida do Espírito entre nós, como promessa de Jesus que, através de sua morte e ressurreição, reconciliou o mundo inteiro. Pentecostes é para todos. Todos! E quando lembro-me da palavra "todos", faço uma paráfrase do Arcebispo Desmond Tutu (da Igreja na África do Sul e prêmio Nobel da Paz), que repetiu tal palavra diversas vezes ao lembrar-nos que "Deus mandou Seu filho para TODO aquele, TODO, TODO aquele que n'Ele creu"... A linguagem de Cristo unifica. O Espírito Santo nos conduz.

O cenário mitológico de Babel é confuso... O ser humano, orgulhoso e pretensioso, acha-se capaz de chegar a Deus, construindo uma torre até Ele. A presunção humana esbarra-se na diversidade de línguas entre os diferentes homens e mulheres, o que os obriga a desistir do feito. E quantas vezes nós também não procuramos chegar a Deus por conta própria? Construímos um relacionamento unilateral com o que achamos que é Deus e partimos na nossa "confusão de Babel" para tentar chegar, sem sucesso, até Ele.
Em Pentecostes, porém, o efeito-Babel é eliminado por Deus. Estavam lá a Bem-Aventurada Virgem Maria, os Santos Apóstolos e diversos outros discípulos - de toda a parte do mundo. Ao contrário de Babel, eles não tinham a mínima intenção de chegar, por conta própria, até Deus. Estavam é apreensivos com a ascensão do Cristo. Suplicavam a Deus por auxílio. Ali, naquele momento, Deus manifesta-se com sua face consoladora, trazendo-lhes uma só língua. Quebra-se a maldição de Babel. Todos são um só povo de novo. Todos se entendem plenamente. É a colheita de algo novo: a Igreja de Cristo, a Palavra feito carne: aquele que veio para cumprir a Lei e libertar a todos do jugo do pecado.

Recebam o Espírito Santo. Os pecados daqueles que vocês perdoarem, serão perdoados. Os pecados daqueles que vocês não perdoarem, não serão perdoados. Espírito Santo, vem!

Em oração,

Diác. Nelson de Paula Pereira +
Membro da Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro
contato@nelsondepaula.com
www.nelsondepaula.com

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