Quaresma: O
Caminho da Cruz para a Páscoa (Pascha)
Pascha
(Páscoa) evoluiu rapidamente para um ciclo que agora comemoramos como um dia e
uma temporada dos Grandes Cinquenta Dias, terminando com Pentecostes e
precedida por um período de preparação. Embora as tradições mais antigas não
sejam claras, a Quaresma aparentemente evoluiu como um tempo para treinamento,
particularmente como um tempo de preparação final de candidatos ao batismo na
Páscoa. A Quaresma também se tornou um tempo para a renovação dos fiéis, bem
como um tempo para os penitentes se prepararem para retornar para a comunidade
de fé.
No século IV, a Quaresma
passou de um jejum de dois dias, através de uma semana rápida, para um jejum
bíblico de “quarenta dias”. Originalmente, embora a Quaresma contivesse elementos
da penitência, era principalmente um tempo dedicado a preparar aqueles que deviam
ser batizados. A quadra quaresmal parece ter se desenvolvido como um período de
aprender o que significa ser um seguidor de Cristo. Essa preparação para o
batismo incluía o credo, os ensinamentos de Jesus (talvez o Sermão da Montanha)
e as disciplinas da fé cristã.
O período da Quaresma
teve e ainda tem ênfase na reafirmação do batismo e da identidade cristã, conhecer
e viver a fé. Durante a Quaresma, temos a oportunidade reafirmar quem somos e
sempre seremos, em antecipação à Páscoa.
Começando a Viagem
da Cruz à Páscoa (Pascha)
A jornada quaresmal das
cinzas da morte para a vida ressuscitada começa no primeiro dia da Quaresma,
quarta-feira de cinzas, que significa um tempo para dar a volta, mudar de
direção, se arrepender. Esse primeiro dia da Quaresma nos lembra que, a menos
que estejamos dispostos a morrer para o nosso antigo eu, não podemos ser
ressuscitados para uma nova vida com Cristo.
O primeiro passo dessa
jornada nos leva a reconhecer e enfrentar nossa mortalidade, individual e
corporativamente. Em muitas tradições, isso é simbolizado através da imposição
de cinzas - colocando uma cruz de cinzas na testa.
Durante a imposição de
cinzas, as palavras: “Tu és pó, e ao pó voltarás” (Gênesis 3:19) são
repetidas várias vezes. Devemos lembrar que nós somos apenas criaturas
temporárias, sempre à beira da morte. Na quarta-feira de cinzas, começamos
nossa jornada quaresmal pelo deserto em direção à Páscoa.
Cinzas na testa são um
sinal de nossa humanidade e um lembrete de nossa mortalidade.
Quaresma não é uma
questão de ser bom, e usar cinzas não é mostrar a fé de alguém. As cinzas são
um lembrete para nós e nossas comunidades de nossa finitude enquanto criaturas.
As cinzas que usamos em nossa jornada quaresmal simbolizam o pó e detritos
quebrados de nossas vidas, bem como a realidade de que cada um de nós irá
morrer.
Confiando no “fato
consumado” da ressurreição de Cristo, no entanto, ouçamos a palavra de Deus
nas histórias consagradas da jornada da Quaresma. Seguimos Jesus no deserto,
resistimos à tentação, jejuamos e prosseguimos “A caminho” de Jerusalém
e da cruz. Nossa jornada quaresmal é uma das metanoias (“reviravolta”), mudar
de direção para o caminho abnegado da cruz.
O que ouvimos durante a
Quaresma é o poder e a possibilidade do mistério pascal, e que o caminho da
cruz, o caminho para a Páscoa, é através da morte. Apropriar a nova vida que
está além do poder da morte significa que devemos morrer com Cristo que foi criado
para nós. Para viver por Cristo, devemos morrer com ele.
A nova vida exige uma
rendição diária da antiga, deixando a ordem presente para trás, de modo a
podermos abraçar a nova humanidade. “Eu morro todos os dias!” afirma o
Apóstolo Paulo (I Coríntios 15:31). A ressurreição requer a morte como um ato
precedente.
A peculiaridade da
quaresma é que, ao morrer, vivemos. Todos os que são batizados em Cristo são
batizados em sua morte. Ser ressuscitado com Cristo significa que é preciso
também morrer com Cristo. Para abraçar a ressurreição, precisamos experimentar
a paixão de Jesus. O caminho da cruz, o caminho para a Páscoa, é através da
morte do “eu antigo”. Ao morrer, vivemos.
Portanto, no início da
Quaresma, somos lembrados de que nossas posses, nossos governantes, nossos
impérios, nossos projetos, nossas famílias e até nossas vidas não duram para
sempre. “Tu és pó, e ao pó voltarás” (Gênesis 3:19). As liturgias durante
a Quaresma buscam nos libertar das seguranças presumidas, mergulhando-nos em
águas batismais desconhecidas, águas que acabam por ser não apenas nossa tumba,
mas surpreendentemente nosso ventre da vida. Ao invés de voltar ao nada, caímos
nos braços eternos. Morte? Por que temer se já somos batizados?
É o poder da ressurreição
no horizonte à nossa frente que nos atrai em arrependimento para com a cruz e a
tumba. Através da intervenção da graça de Deus, há mudanças em nossos valores e
comportamentos.
Ao deixar o “eu
antigo” em nós, o arrependimento quaresmal faz com que é possível afirmar
com alegria: “A morte não existe mais!” e apontar para a paisagem da
nova era. Aderir fielmente à jornada quaresmal de “Oração, jejum e caridade”
leva ao destino da Páscoa.
Completando a
viagem da cruz à Páscoa (Pascha)
Durante a semana final, Semana
Santa, ouvimos a plenitude da paixão de Cristo, sua morte e ressurreição.
Da Entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, Domingo de Ramos, e ao tríduo
páscal (Quinta-feira Santa, Sexta-feira Santa e Sábado Santo),
todos da Semana Santa se concentra na paixão. Como seguidores dele, seguimos o
caminho de Cristo de servidão através da Ceia do Senhor e do sofrimento da cruz
rumo à glória da Páscoa, o que ressalta o vínculo inseparável entre a
morte e ressurreição de Jesus.
Diác. Nelson de Paula Pereira
Igreja Presbiteriana do Brasil
contato@nelsondepaula.com
Fonte: The Companion to The Book of Common Worship.
Presbyterian Church – PCUSA. Peter C. Bower, editor. 1st ed. USA: Geneva Press
&Office of Theology and Worship Presbyterian Church, 2003, p. 109 – 111.
2 comentários:
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