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segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Quando não nos importamos com o sofrimento do próximo

Quando não nos importamos com o sofrimento do próximo
Mateus 4. 12-23

Nessa reflexão observaremos alguns aspectos da vida de Jesus, especialmente quando Ele nos desperta a atenção no aspecto de cuidar daqueles que sofrem.
Domingo após domingo entramos na igreja com o nosso carro, ou te táxi ou agora de Uber, bem arrumados, cheirosos, com dinheiro no bolso, um emprego estável, família em paz e próspera... é claro que essa não é a realidade de todos, mas digamos de uma boa parcela da comunidade. Entramos no templo, desfilamos com a nossa ofertas nas mãos aos olhos de todos, distribuímos e comungamos do Corpo e do Sangue de Jesus e... voltamos para a nossa casa. Alguns vão a um restaurante, vão passear e gastar mais um pouco de seus recursos. Isso não está errado! Errado é quando fazemos tudo isso e não olhamos ao nosso redor e vemos irmãos e irmãs, famílias e pessoas que nem conhecemos nas ruas passando fome, pais sem ter o que dar de comer a sua família, irmãos e irmãs endividados por conta da crise que assola não só o nosso país, mas o Mundo de uma forma geral. Errado é você encenar esse papel de “cristão modelo”, um sepulcro caiado. Sua vida, agindo assim, desprezando a dor e o sofrimento do seu próximo, de nada vale...apenas ser pisada pelos porcos.

O Evangelho de Jesus é diferente. Ele regenera e ele transforma. As atitudes do verdadeiro cristão são diferentes desse...”cristão modelo” que se acha mais espiritual do que todos. Que está na igreja todo domingo. No entanto, sua vida não foi transformada. E é isso que vemos nos últimos tempos. A igreja servindo de um grande teatro com vários atores encenando uma peça. Existem aqueles que acham que assim está tudo bom. Existem aqueles que se incomodam, porém nada fazem para que isso mude; existem aqueles que se incomodam, falam, protestam, mas o seu som é abafado; e existem aqueles que diante do que vê e, experiente, apenas retira-se e, a sós com Deus, vive a sua vida.

Diante dessa realidade somos conduzidos para refletir: 1) sobre a atividade de Jesus na Galileia; 2) sobre o chamado dos primeiros quatro discípulos; 3) sobre uma espécie de resumo do que Jesus fazia.

Por que na Galileia? É significativo que Jesus tenha iniciado sua atividade de pregador da mensagem do Reino de Deus exatamente no local mais pobre e desprezado da Judeia. Situada longe da capital, dela nada se espera, especialmente progresso.
É significativo que Jesus comece sua atividade de Messias para deixar claro que sua missão é romper com todo tipo de injustiça. Porque povo algum poderá ser feliz vivendo sob a opressão e a indiferença dos demais. Por isso a mensagem do Evangelho e do projeto de Jesus era justamente anunciar a preferência do Pai pelos pobres excluídos da vida social e do próprio Templo de Jerusalém.

A causa das trevas da Galileia judaica não era a falta de luz do sol, mas o abandono e o desprezo em que vivia seu povo pela falta de sensibilidade dos governantes para com aquela região. E as “Galileias” próximas de nós? Quais serão as mais escuras? Devemos cultivar primeiro nossa sensibilidade para com os irmãos que nós deixamos no escuro do esquecimento, da indiferença, do preconceito. Perdemos a capacidade de nos importar com o sofrimento dos “moradores de rua”, abafando a nossa consciência com desculpas, chamando-os de vagabundos ... Aceitamos a situação de injustiça com a cegueira de covardes, piores que os cegos, porque não queremos ver. A indiferença é uma escuridão enorme, porque as pessoas são indiferentes ao sofrimento dos pobres. Além dessa indiferença, estamos sujeitos à “cultura do descarte” do ser humano, tanto faz como fez. O Papa Francisco fala firmemente que a indiferença “é um intolerável jugo”.

Para levar-lhes a Luz do Evangelho de Cristo, visualizado em nossas atitudes de respeito e amor fraterno, devemos deixar-nos iluminar (Evangelho, sacramentos) para que, desse modo, nos tornemos iluminadores.

O próprio Jesus iniciou sua missão lançando sua luz justamente no local mais cheio de trevas, a Galileia. Por isso, já deveríamos ter começado a nos iluminar há muito tempo. Qual era o trabalho de Jesus na Galileia? Inicialmente, Jesus mostrou que até eles, os pobres excluídos, deveriam converter-se. Converter-se significa mudar a maneira de pensar e de viver, para aceitar e pôr em prática essa preferência do Pai. O início da atividade de Jesus se deu na Galileia para mostrar que ele queria começar sua missão no lugar mais difícil e mais necessitado de transformação. Fica muito clara a preferência de Jesus, igual à do Pai.

Os pobres, no olhar de Jesus, são todas as pessoas que sofrem por ser vítimas de qualquer desigualdade: religiosa, social, cultural, econômica, política etc. Essa atividade prática no cotidiano de Jesus mostra claramente que ele traz para os pobres o Reino de Deus.

Depois, é a vez do chamado dos primeiros quatro discípulos: os irmãos Pedro e André e, em seguida, os dois filhos de Zebedeu, Tiago e João. A reação dos quatro foi a mesma: rapidamente, deixaram tudo e passaram a acompanhar Jesus. Chegaram ao ponto de deixar a companhia do próprio pai, que significava o ponto de relação estreita entre a família, as tradições e a cultura de sua história. O efeito do chamado no coração deles foi tal que deixaram até o que poderia ser mais sagrado, para não recusar Jesus e sua missão. Seguindo Jesus, eles foram treinando o que deveriam fazer inspirados por ele. Jesus comparou sua tarefa com a deles, em sua profissão de pescadores; mas lhes disse que, dali em diante, não seriam mais pescadores de peixes, mas de gente, ensinando a converter-se para acolher o anúncio da Boa Notícia da salvação e curando os doentes como testemunho da libertação plena que Jesus trazia. A tarefa a que os convidou não era fácil, mas os entusiasmou de tal modo que nunca mais a largaram.

Diác. Nelson de Paula Pereira
contato@nelsondepaula.com
www.nelsondepaula.com



Adaptado de PEREIRA, Augusto César. Meditando a Palavra. V. 5. 1ª edição. São Paulo: Paulus, 2015.

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