O Cemitério de Protestantes
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sábado, 26 de março de 2011
Fundação da Igreja Presbiteriana e Construção do Cemitério de Protestantes de Cachoeira – Bahia
O Cemitério de Protestantes
Navio Negreiro - Castro Alves

I
'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.
'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro...
'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...
'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...
Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.
Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!
Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!
Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!
Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia...
..........................................................
Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar — doudo cometa!
Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.
II
Que importa do nauta o berço,
Donde é filho, qual seu lar?
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho mar!
Cantai! que a morte é divina!
Resvala o brigue à bolina
Como golfinho veloz.
Presa ao mastro da mezena
Saudosa bandeira acena
As vagas que deixa após.
Do Espanhol as cantilenas
Requebradas de langor,
Lembram as moças morenas,
As andaluzas em flor!
Da Itália o filho indolente
Canta Veneza dormente,
— Terra de amor e traição,
Ou do golfo no regaço
Relembra os versos de Tasso,
Junto às lavas do vulcão!
O Inglês — marinheiro frio,
Que ao nascer no mar se achou,
(Porque a Inglaterra é um navio,
Que Deus na Mancha ancorou),
Rijo entoa pátrias glórias,
Lembrando, orgulhoso, histórias
De Nelson e de Aboukir.. .
O Francês — predestinado —
Canta os louros do passado
E os loureiros do porvir!
Os marinheiros Helenos,
Que a vaga jônia criou,
Belos piratas morenos
Do mar que Ulisses cortou,
Homens que Fídias talhara,
Vão cantando em noite clara
Versos que Homero gemeu ...
Nautas de todas as plagas,
Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu! ...
III
Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!
IV
Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
V
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...
São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .
São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.
Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
... Adeus, ó choça do monte,
... Adeus, palmeiras da fonte!...
... Adeus, amores... adeus!...
Depois, o areal extenso...
Depois, o oceano de pó.
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p'ra não mais s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer.
Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...
Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! ...
VI
Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!
quinta-feira, 24 de março de 2011
PRÓXIMA PARADA: SUBÚRBIO - Renato Lemos

Não é fácil definir exatamente o que é um subúrbio carioca – nem a prefeitura tem dados precisos que ajudem a traçar seus limites -, mas é provável que não exista subúrbio de verdade sem linha do trem, pipa voada, cadeira na calçada, vizinha fofoqueira, botequim da esquina, português no botequim da esquina, fiado só amanhã, sacolé, pelada, top de lycra, carro lavado na rua, churrasquinho, escola de samba, caça-níquel, quintal, cigarra, Cosme e Damião, mangueira e amendoeira, um monte de van, um monte de camelô, bíblia, beata, macumba, criança na rua, Bope, favela, aquelas garotas de shortinho apertado, chinelo de dedo, suor, funk, cerveja e muito calor.
É possível também que subúrbio que é subúrbio mesmo tenha nome e sobrenome, como Ricardo de Albuquerque, Vicente de Carvalho, Quintino Bocaiúva, Oswaldo Cruz, Magalhães Bastos e Bento Ribeiro. Há ainda os que defendam que subúrbio, mais que um conceito geográfico, é um estado de espírito: a pessoa pode deixar o subúrbio, mas o subúrbio jamais a deixará. São pistas a seguir. Desde que a ação da polícia no Complexo do Alemão – aliada às bênçãos de um onipresente São Jorge – trouxe mais paz à região, o carioca voltou a ter a chance de descobrir do que, afinal, é feito o subúrbio.
A estreia de Ronaldinho Gaúcho no Flamengo aconteceu no Engenhão, o estádio cravado no bairro do Engenho de Dentro. É um estádio moderno, com arcos de aço, telões para acompanhar os jogos e lanchonetes de grife. Todos os clássicos do Campeonato Carioca vão acontecer ali. Até 2013, será o campo oficial para Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco. Para chegar lá, o melhor caminho é pegar a linha do trem. A estação do Engenho de Dentro – a mais bonita entre as 19 do ramal de Deodoro – é vizinha do estádio. Saindo da Central do Brasil, são 20 minutos que, com sorte, podem ser percorridos em vagão com ar-condicionado.
O Engenhão se soma a outros motivos – como a inclusão de novos botecos entre os melhores no guia “Rio botequim 2011″, como o excêntrico Codorna do Feio, ali pertinho – que estão devolvendo ao suburbano o orgulho de morar por lá.
- Depois que o carioca superar o medo de sair da Zona Sul, vai descobrir que os botequins do subúrbio têm muito a oferecer – atesta Zé Carlos, do Original do Brás, em Brás de Pina, bicampeão no concurso Comida di Buteco com uma receita revolucionária de bife à rolê. – Sou eu, minha mulher e meu filho, além de duas sobrinhas como garçonetes. Botequim do subúrbio é coisa de família.
Família existe em todo lugar, mas família suburbana é uma instituição à parte, com seus códigos e personagens próprios – e qualquer um que tenha assistido a um episódio de “A grande família” sabe bem o que é isso. É Nenê, Lineu, Tuco, Beiçola e Agostinho por toda parte. Durante os últimos anos, quando foi grande o êxodo dos suburbanos em direção a Jacarepaguá e à Barra, foi a família – ou a memória afetiva, vá lá – que manteve de pé os costumes do lugar.
Onde quer que esteja, o suburbano vai carregar junto com ele os clubes de bairro, o banho de mangueira, o campinho para o “time contra”, o mormaço das tardes de sábado, o futebol no radinho de pilha, o cheiro do incenso e da chuva, os bobbies no cabelo, o vendedor de pão na bicicleta, o bola ou búlica, as coxas da namorada no uniforme da escola, o visgo da jaca, a cola do cerol que gruda nos dedos e nunca mais sai dali. Mais que tudo, o suburbano não desapega das casas da sua infância. E não há subúrbio sem casas de subúrbio.
- Uma casa como esta demorava seis meses para ser vendida, e só quem comprava era creche e centro de macumba. Hoje tenho fila de interessados – diz Paulo Soares, corretor de imóveis, apontando para uma casa de varanda, a imagem de Nossa Senhora de Fátima no alto da fachada, numa rua sossegada do Encantado, bairro com o nome mais bonito da cidade. – Quando o filho se casava, era normal querer morar na Barra ou no Recreio, mas agora ele voltou a procurar imóveis nos bairros onde nasceu.
A casa negociada por Paulo Soares – dois quartos, garagem coberta, muro revestido de azulejos decorados – está avaliada em R$250 mil. É o novo patamar. Um sala e dois quartos em Bonsucesso, por exemplo, que até o ano passado era anunciado por R$90 mil (e não encontrava comprador) agora sai por até R$140 mil. Os aluguéis da área também subiram, cerca de 40%, e já não é fácil encontrar casa de vila – típicas da Zona da Leopoldina – para locação.
- Onde você ia encontrar uma casa igual à minha? Em Ipanema? No Leblon? – pergunta Carlitoel Gomes de Morais, o Carlinhos, que pintou de vermelho e preto a fachada de sua casa, em Olaria, numa homenagem ao Flamengo.
Carlinhos – que afirma que seu nome de batismo é artigo tão raro quanto sua residência – mora há 30 anos no mesmo lugar. Está com 51. A paixão pelo Flamengo se confunde com a paixão pela mulher, Zica, que foi babá de Zico, o Galinho de Quintino. Ele diz ter hábitos, como o de caminhar pela rua depois do jantar para fazer a digestão, típicos do lugar.
Mas Carlinhos lamenta que outros prazeres, como ir ao Cine Olaria (hoje transformado num depósito de material de construção), para ver bangue-bangue, já não façam parte de sua rotina.
- O que deve ser feito é dar aos subúrbios a valorização dos serviços, pensar na obras, no lazer e nos meios de transporte como se fosse no Centro ou na Zona Sul – diz o arquiteto e urbanista Jorge Jauregui, um crítico da maneira desordenada da ocupação urbana carioca. – Além disso, temos que devolver o verde, compactar as áreas, melhorar os trens e intervir na paisagem. O entorno da linha do trem é feio e abandonado, a viagem é um sacrifício. É preciso investir na estrutura e no lazer.
Lazer, em todo o subúrbio, sempre teve nome e endereço: Parque Shangai, logo ali embaixo da Igreja da Penha. O parque está há 63 anos no mesmo lugar e (quase) com os mesmos brinquedos espalhados numa encosta arborizada. Viveu épocas de vacas magras desde que o tráfico se instalou nas redondezas. Isso mudou. Há dois meses, registra um aumento de 25% no número de visitantes. É gente que paga R$15 pelo passaporte com direito a roda-gigante, bate-bate, chapéu mexicano. Num domingo de verão, 38 graus no termômetro, a família de Oswaldo Barbosa ficou 20 minutos na fila do trem fantasma:
- Meu pai me trazia aqui, e agora eu estou vindo com os meus filhos. Não dá pra quebrar a tradição.
Adonias Montenegro sabe bem o que é tradição. Ele tem 72 anos e sempre morou em Marechal Hermes. O bairro, para quem não tem intimidade com a região, é um subúrbio clássico: tem casarões antigos e bem conservados, coreto, ruas de paralelepípedo e militares espalhados em todo o canto. Além de muitas árvores.
Adonias mora em uma casa construída pela Marinha, com varanda, piscina de plástico azul, mangueira no quintal com uma cadeira embaixo. É um lugar estratégico.
Dali, ele fica de olho na rua e no Bar da Amendoeira (existem pelo menos cinco bares da Amendoeira nos subúrbios, o mais famoso é o de Maria da Graça), na esquina em frente. Ele é presidente do Clube do Buraco, um apanhado de uns 30 amigos que, diariamente, se reúne embaixo da tal amendoeira para jogar cartas.
Descobrir o que se conversa ali é mais difícil do que saber se Bangu é subúrbio ou Zona Oeste ou onde, caramba, enquadrar a Ilha do Governador. Aos sábados, a turma do carteado espera o dono do bar encerrar o almoço (feijoada, dobradinha, rabada, um mocotó de lamber os beiços) para colocar o churrasco na rua. Os membros do clube têm direito a levar as famílias.
- Subúrbio é isso aqui, amigos e a família juntos. E a cervejinha, claro. Não saio daqui por nada – diz Adonias, que na juventude jogava futebol no campo hoje ocupado pelas divisões de base do Botafogo. – O Dario Peito de Aço tentava vaga aqui, mas só entrava em campo quando não tinha mais ninguém pra jogar. Não tinha vaga. Muito craque nasceu no subúrbio, cara!
Adonias talvez seja um romântico, nostálgico de uma época que não volta mais. Do tipo que prefere o samba ao funk, o Mercadão de Madureira ao NorteShopping, a conversa no portão ao papo na lan house, a bola de gude ao Playstation, o pé-sujo da esquina ao botequim de franquia, o barbeiro ao salão de cabeleireiro, a Igreja da Penha ao templo da Universal do Reino de Deus. Do tipo que faz questão de afirmar que subúrbio é uma coisa e periferia, ah, periferia é outra, completamente diferente. Não está só.
A Caprichosos de Pilares, que este ano tenta voltar ao Grupo Especial, tem os subúrbios cariocas como enredo. Lá pelo meio do samba, a letra diz: “O povo de bem pede proteção/ Senhor, deram as costas pra me renegar/ Mas minha fé, ninguém vai abalar/ Sou suburbano e não me canso de lutar.”
O subúrbio, todo ele, é mais ou menos assim.
Fonte: Jornal O Globo, 06/02/2010